Vacina e não armas

Eduardo de Ávila
Reprodução/Getty Images

Democracia e não Ditadura!

Fui criado, nos anos 60, sob a democracia da baioneta. Plena liberdade para correr pelas ruas da cidade, brincar de pique esconde e jogar futebol, alheio aos acontecimentos que só o tempo trouxe a luz dos nossos conhecimentos. Eventualmente, pelas ondas de rádio (televisão ainda era novidade e poucas), ouvia sobre um “Brasil que vai pra frente”, que foi até tricampeão mundial.

Foi uma anestesia generalizada, porém logo depois, tendo acesso a livros proibidos – já eram chamados de “coisas de comunista” – entrei num novo período de reflexão. Daí pra frente, já se vão mais de 50 carnavais (sem contar o de 2021), firmei meu próprio juízo. Em que pese um patrulhamento permanente, desde esses primeiros tempos de adolescência. Antes em casa, agora ao entorno.

Pois que, nessa transição, percebi – ainda que gradativamente e até hoje ainda aprendedo – que viemos ao mundo para uma transição espiritual. Fica claro que acredito em vida após a experiência terrena, cabendo a quem assim entender buscar sua melhoria para a paz permanente. Se o Criador é um só, a religião – cada um com a sua crença – é a maneira de buscarmos sentido a essa vida. A essa atual existência, pois outras nos esperam pela frente.

(Malte Mueller/Getty Images)

Evidente, sabemos que existem aproveitadores da religião – da fé alheia – que são exatamente aqueles que não creem no que pregam. Agiotas, exploradores de dizimistas e mão de obra, toda e qualquer pessoa que usa e abusa do seu semelhante em benefício próprio – na verdade – não creem em Deus e usam o nome do Senhor para seu favor e interesses próprios. Estão adquirindo mais ônus e não se purificando para a vida plena espiritual. Hipócritas!

Faço todas essas considerações para chegar onde pretendo. Estamos vivendo, acredito que cada um de nós, os tempos mais duros da nossa atual existência. Aqui no Brasil, agravado por um momento infeliz de gestão da coisa pública, onde interesses de um pequeno grupo no poder, sobrepõem qualquer racionalidade em busca de solução coletiva. Daí surgiu o tão badalado negacionismo. Capitaneados por um capetão que perdeu a farda e a moral em décadas passadas, assistimos um rebanho negando a realidade. Desde científicos para atingir o desejo do líder, em defesa de ideias radicais.

Diante dessa triste realidade brasileira, conforme pudemos ler no belo texto do Guilherme Scarpelini aqui neste blog sábado último, o governo opta por dar armas à população no lugar de vacina para combater a “gripezinha” fatal. Já caminhamos para a casa dos 300 mil mortos e os negacionistas, liderados por um tosco, idiota e ignorante presidente, ainda continuam vendo comunismo, esquerdismo, petismo, lulista, dilmista por todo canto. Paranoia que afeta até os inocentes e bem intencionados nacionalistas. Nunca fui tão triste em meus 63 anos, como desde as eleições de 2018. Já votei dezenas de vezes, ganhei e perdi, mas essa tragédia anunciada parece não ter final feliz.

Reprodução: redes sociais

Ando, com o devido cuidado, por alguns pontos da cidade. Fiquei quatro meses confinado, acabei optando por um risco – ainda que mínimo – a adoecer sozinho dentro de casa. Ouço interessantes observações por onde passo, como de uma senhora numa mesa próxima no Café Ah Bom lá do Pátio. “Troco meu direito a armas por duas doses de qualquer das vacinas contra a COVID. Minha marca preferencial é a QTP”. Não aguentei e tive de entrar na prosa, desconhecia essa laboratório. Ela prontamente: “a Que Tiver no Posto”.

Ouvi, lamentavelmente no final de semana, duas pessoas defendendo aquele projétil de deputado carioca que depois da kgada se borrou todo. O sujeito se elegeu com um vídeo afrontoso contra uma mulher assassinada e ganhou poderes que julga ter numa Democracia, embora defendendo a instalação da Ditadura. Aqui em Minas Gerais mesmo, temos um parlamentar em exercício de mandato, noutras circunstâncias, que se elegeu com um vídeo atacando autoridade. É esse tipo de gente que decide o nosso destino.

Pois bem, sobre o caso do parlamentar preso por defender o ataque às instituições nacionais, penso eu, que sirva de exemplo a outros valentões que defendem o direito democrático quando convém aos seus delírios e querem a Ditadura da minoria. Acham que liberdade de expressão é salvo conduto para prática de crimes. Quem defende essa atitude, entende que assassinar é liberdade de ação. Univitelinos, tanto os crimes quanto os agentes. Quero dizer, quem defende esse comportamento é igualmente criminoso quanto o agente transgressor.

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