A madrugada é o meu momento. Há algum tempo, tem sido assim. Antigamente, não gostava dessas horas frias. Possivelmente, assombradas. No entanto, os fantasmas têm me acolhido bem. Eles não gritam. E assim, consigo ouvir meus pensamentos.
Pela manhã, a casa ferve. Duas crianças correndo de um lado para o outro. Dois meninos. Será que meninas seriam mais calmas? Lembro das minhas sobrinhas e logo desfaço o pensamento. Elas ganham de longe em “espoletagem” dos meus.
Hora do almoço e a meta é tentar fazer algo saudável. Uma verdura de folha escura. Algum legume que não seja a cenoura. Manjada. Desembolo. Num dia, ganho elogios, noutros, não. De vez em quando, resolvo tudo com pacotes. Faço vista grossa para estes e sigo. Vamos para a aula online.
Dois meninos, duas aulas. Fico com o mais novo. O mais velho tem que se virar, mas de vez em quando me chama e vou em seu socorro. Esquecemos de imprimir alguma coisa. Corre para fazer. Enquanto isso, na aula do outro, a professora pede uma cebola. E tome partir o cérebro ao meio. Feito o rei Salomão sugeriu. Já haveria tecnologia para isso?
Lanche. Tem que ter fruta. Às vezes, não tem. Preparo um lanche à base de trigo, já pensando no jantar. Prefiro falar “janta”. “Jantar” remonta a algo chique. Aqui em casa, quase todo dia, o que salva é um “mexidão”. Nutritivo, digo para mim.
Banho. Momento da gritaria master. Primeiro, para não tomar. E depois, quando entram, é briga misturada com brincadeira. Eles cantam, lutam, cai sabão no olho, choram, um chuta o outro e por fim, saem e vão vestir o pijama. Nesse meio tempo, têm duas horinhas para ver tv. É o intervalo em que me lembro de respirar. Estudar. Lavar o cabelo. Passa rápido. O Goku, às vezes, berra tão alto que esqueço o que precisava fazer. Ou é a música das Chiquititas que invade a tela do meu computador.
Por fim, escovar os dentes. Cama. Não tenho muito pique para contar história todo dia. Eles adormecem e eu também, muitas vezes, do jeito que estou.
Marido chega cansado, mais tarde, e convivemos.
E a casa entra em repouso.
Então, por volta das quatro horas, acordo. É aí que encontro meu almejado silêncio. Minha mente parece borbulhar de pensamentos. Ideias, lembranças, coisas a serem feitas. Muitas vezes, nesse horário, escrevo os textos para o blog. Inteiro-me das notícias. Olho uma coisinha pra comprar. Por volta das seis, durmo de novo. Para acordar dali a pouco e recomeçar o ciclo.
Sempre fui uma pessoa do dia e agora, como um galo, é na madrugada que encontro meu canto.
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