Tais Civitarese

Esse ano, perdi uma das pessoas que mais amava no mundo. Minha avó, minha doce e adorada avó. Vinha me preparando para isso, pois ela já era bem idosa, mas não foi fácil. Até hoje, ainda não é. O amor dela era um lugar de conforto garantido, era um colo caloroso nesse mundo conturbado. Colo pra mim, para os meus filhos e também para a minha mãe. A presença dela era alegria, era o símbolo mais nobre que tínhamos de família.

Seu abraço era único. Era fofo, macio, perfumado, com textura de algodão. Ela era gordinha e envolvia a gente numa nuvem almofadada de carinho. Com o passar dos anos, ela ficou menorzinha. Mas o abraço continuou igual. Jamais existirá um outro assim. Sempre disse à minha mãe que essa seria minha maior saudade. 

Próximo ao Natal, a falta dela aperta mais.

Uma noite dessas, tive um pesadelo horrível. Envolvia um crime, morte, cinco tiros, visita ao IML, prisão e vingança. Eis que em meio ao pesadelo, ela aparece. E eu lhe digo:

– Vó! Você voltou?

Ela diz:

– Vim te dar um abraço.

Nesse momento, senti seu abraço muito forte. Senti seu perfume, o roçar de seus cabelos cacheados no meu rosto, seu carinho, seu amor. Senti como se ela estivesse ali, até mais forte e presente do que quando a vi pela última vez. Eu tinha consciência de que ela não estava mais conosco, mas ao mesmo tempo, ela estava. Uma ambiguidade estranha que só os sonhos são capazes de enredar.

Ao acordar, era como se a tivesse abraçado. Acordei feliz, nutrida por seu afeto.

Talvez a morte seja um pouco isso. Um ir e não ir. Um não estar e estar de outra maneira. 

Na mesma semana, soube que meu tio sonhou com ela de um jeito parecido.

Gosto de pensar que ela voltou pra nos ver. Para dar os abraços que confortam quem a amava. Não sei se “voltar” é bem a palavra. A gente não volta para um lugar de onde jamais saiu… 

*
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