Tais Civitarese
Uso esse espaço, honrosamente concedido a mim pelos amigos do Mirante, em especial Eduardo de Ávila e Daniela Piroli, para refletir, me confessar e dividir histórias e pensamentos.
Chegado o fim do ano, é impossível não fazer um balanço da aventura surreal que vivemos em 2020. Um ano diferente, assustador, pandêmico e inesquecível. Tudo isso falando do global, ainda sem levar em conta as micro transformações da vida nossa de cada dia, as pequenas mudanças que impactaram grandes sentimentos.
Foram muitas lições aprendidas. Para mim, a efemeridade foi a maior delas. A consolidação da ideia de que tudo é dinâmico, de que fazemos planos e o minuto seguinte nos vira de ponta a cabeça e zomba da nossa cara. Nunca houve um tempo em que isso se fez tão claro para mim. Que bobos nós somos… Minha janela de crenças se estilhaçou feito vidro. E a velha e batida frase ‘carpe diem’ recobrou sua conotação mais verdadeira.
Eu não botava nenhuma fé no corona. Em janeiro, lendo as notícias de sua ascensão na China, achava que se tratava de mais uma tese sensacionalista dos jornais. Eis que é dezembro e ele está aí até hoje, tendo revolucionado o mundo e condicionado cada passo do nosso futuro.
Tempos de insegurança e apreensão nos marcam profundamente. Transparecem nossa fragilidade e vulnerabilidade diante da vida. Nos deixam menos ‘deuses’ e mais humanos. Talvez mais humildes. Talvez.
Às vezes, o pensamento se aloja no campo do medo e tudo fica obscuro. Porém, sou feliz por ter referências de amor e de alegria para ele voltar. Não deixo de ter esperança. Ela renasce das pequenas coisas. Das boas ações, das boas leituras, dos bons amigos.
Venho fazendo esforço para que minha mente permaneça o máximo de tempo possível nesse campo. Tem dias que é difícil. Mas é igual ginástica, requer persistência. Numa luta inédita para manter o otimismo, encerro esse ano ansiosa pela cura. Ansiosa pela vacina. Ansiosa por menos sobressaltos. E por boas notícias.