Tais Civitarese
Pelas manhãs, tenho ido caminhar na Praça da Liberdade. Saio cedo, coloco um boné e subo alguns quarteirões para ir me exercitar nesse local-símbolo de Belo Horizonte.
Apesar da praça não ser tão grande, a cada dia encontro uma cena diferente por lá. É gestante posando para ensaio de fotos cercada de guirlandas de flores, é aula de dança ao ar livre, ou são pequenos grupos fazendo piquenique na grama.
Tem um bebê que passa por mim no carrinho empurrado pela babá. Já conheço o bebê, de tão carismático e assíduo.
Outro dia, logo às oito, já tinha um vendedor expondo quadros pintados por ele mesmo.
Já me ofereceram brownie sem glúten ou lactose, feito com açúcar demerara e farinha de amêndoas. Água de côco ou gelada, tem quase todo dia.
Tem um pessoal que fica só sentado nos bancos, vendo o tempo passar. Alguns turistas tiram fotos em frente ao Palácio da Liberdade. E outros fazem fotos-conceito na Alameda (serão blogueiros?) em inúmeras tentativas, até ficar bom.
Cachorros, só aqueles de madame. Raramente vejo um vira-lata por ali. Alguns casais de namorados, um ou outro sujeito lendo um livro. Amigas sentadas lado a lado, mexendo no celular.
Alguns esportistas, corredores ofegantes. As passeadoras da caminhada, assim como eu. E as que foram pegas de surpresa e vão caminhar de sandálias.
Os senhores, a passos pequenos, que de vez em quando, embolam o trânsito.
Uma cuidadora com um idoso, com quem vai conversando calmamente. Aquele idoso deve gostar dela. E ela dele. Esse solzinho das nove deve lhes fazer bem.
Uma moça muito arrumada deve estar indo para o trabalho. E uma outra, de óculos, que acaba de sair do museu.
Minha mãe conta que a feira hippie antigamente era ali, às sextas-feiras. Ela saía do trabalho, no prédio do Memorial Minas Gerais, e ia ver alguma coisa nas barraquinhas.
Hoje, a praça é meio um parque. E cumpre bem sua função. Me admira lembrar que foi fechada por gradis – fazendo as vezes de muralhas – durante boa parte do ano… Aqueles gradis eram como a parede de uma casa. Metáfora perfeita para o isolamento da Liberdade e da vida que se apropria dela.
Contornando-a quase todas as manhãs, me lembro que o mundo também gira, que o tempo passa, que é bom ter um tempo livre e que a vida insiste por viver.
Tata, fico feliz porque agora a Praça da Liberdade faz parte dos seus dias assim como, por 25 anos, fez parte dos meus. Amei a crônica!!