Quando era mais novo – chegando até mesmo a exercer um mandato eleitoral – era comum ouvir expressões como “recado das urnas”. Naquela ocasião, o debate girava em torno de legendas sólidas e políticos que disputavam a condição de estadista. Tivemos vários, tanto do lado conservador quanto de posições e preocupações com o campo social.
Hoje esse debate empobrecido fica restrito a questão de ser direita ou esquerda, enquanto os atores nem de longe se parecem com aqueles de tempos passados. Com isso, as legendas mais fortes por todo o país caíram no descrédito da população. PSDB, PT e até MDB, com outros de menor visibilidade e de pragmatismo invejável, deram lugar a partidos inexpressivos e sem programas definidos.
Por todos os municípios brasileiros e mineiros, é fácil observar esse “fenômeno” ou “recado das urnas” – o cidadão quer partidos e políticos comprometidos com os reais interesses da população. Em 2018, numa eleição atípica – a meu juízo – sofremos um triste retrocesso e a resposta foi imediata. Já neste 2020, dois anos após uma quase histeria de sequestro do poder pelo ódio, elegemos e sedimentamos esse sentimento que dividiu famílias e amigos.
Num passado até recente, quando tivemos Fernando Henrique, Lula e Dilma na presidência, perdemos a oportunidade de realizar amplas reformas no Brasil. Desde econômica, social e, claro, partidária e eleitoral. Todos eles, sem exceção, optaram por adiar essas necessidades e o resultado disso foi a ascensão de um candidato sem as condições mínimas de governabilidade. Desde moral até intelectual.
Seus apoiadores, na maioria dos municípios, foram massacrados pelas urnas. Veja São Paulo, Belo Horizonte (aqui seu preferido teve 10% dos votos na última semana, sob o impacto da eleição americana) e outras capitais brasileiras. No nosso caso, como mencionei, esse percentual corresponde exatamente à uma minoria que pensa e age exatamente ao chamado do berrante. O ódio sobre os 90%, esmagadora maioria, que pensa diferente.
Aqui venceu o inexpressivo PSD, em primeiro turno, superando os igualmente frágeis PRTB, Cidadania, PSOL (este surpreendente), Novo (que só tem o governador de Minas como referência) e arrasando PT e PSDB, ambos abaixo de 2% dos votos. Lá na minha Araxá venceu o Cidadania e teve como segundo colocado o Patriota.
Não bastasse isso, avaliando as eleições proporcionais – Câmara de Vereadores – da mesma forma as renovações foram espetaculares. Via de regra, eram renovados em torno de 30% a cada nova eleição. Pois, aqui em Belo Horizonte, onde são 41 vereadores, apenas 17 foram reeleitos. Com isso, a nova legislatura terá 24 novos vereadores.
O mesmo ocorreu na minha cidade. De 15 membros da Casa Legislativa, apenas cinco foram reconduzidos. Serão 10 novos vereadores em primeiro mandato. Tanto aqui quanto lá, partidos até então desconhecidos terão representatividade. Vejam ainda, em São Paulo, o PSOL foi ao segundo turno e deixou fora da disputa o radical de direita, com o apoio do presidente, que terminou em quarto lugar na votação.
Interessante e pelo bem da democracia e representatividade. Em Araxá foi de uma para três vereadoras. Em BH saltou de quatro para 11 delas. Estamos reagindo ao retrocesso recente. Saudável!
Lá em Porto Alegre, estado governado por uma eventual e possível estrela tucana, o partido sequer avançou para a segunda eleição. A disputa será entre o MDB e o PCdoB da candidata Manuela, que era vice de Fernando Haddad em 2018. No caso gaúcho, registre-se que os dois vereadores mais bem votados e eleitos são do PSOL. Em Belo Horizonte foi Duda Salabert a campeão de votos. Uma capital conservadora elege uma trans e lhe confere a primeira colocação.
Como se sugere, o mundo, em época de coronavírus, está em constante mutação. A experiência com o extremismo foi derrotada. O brasileiro aposta agora em uma mudança mais suave. Só para fechar, em Araxá, onde voto, a minha opção para a Câmara Municipal não foi vitoriosa.
Entretanto, ontem, em conversa com muitos amigos que moram lá, pude sentir uma enorme esperança com a nova Casa Legislativa Municipal. Foram eleitos novatos com antigos e interessantes trabalhos sociais no município. Vale dizer, é possível ter esperança de dias melhores em tempos recentes.
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Registre-se tbm o nº expressivo de de votos nulos e o maior recorde de abstenções em 20 anos_ 23/1%_ q vem crescendo a cada pleito. A classe política e muito mais as instituições, estão desacreditadas e governabilidade não faz parte da cartilha desta turma. A crise moral que afeta as instituições brasileiras reflete o quadro de corrupção,e, o que era latente tornou-se patente. A conclusão é uma só: a reforma que o BRASIL quer não virá desta corja de mau políticos q o brasil tem. Simples!