Anne Hathaway, no papel de Grande Bruxa (Divulgação/Warner)
Guilherme Scarpellini
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Os Estados Unidos enxotaram o Donald Trump da Casa Branca, mas o mundo continua chato. Muito chato, aliás. Pois não é que o tribunal das redes sociais decidiu condenar a estreia “Convenção das Bruxas” (2020) — refilmagem do clássico dos anos 1990 — a pagamento de cesta básica, trabalho voluntário e prisão em regime fechado com a chapa Huck/Moro 2022? Isto é, pena de morte?

Calma, explico. É que as redes pediram a cabeça dos produtores do filme dirigido por Robert Zemeckis, após atletas paraolímpicos criticarem um detalhe na aparência da Grande Bruxa, personagem interpretada pela majestosa Anne Hathaway: uma mão com apenas três dedos. Bastou para que a obra fantástica fosse acusada de incitar o preconceito contra os portadores de ectrodactilia — síndrome congênita causadora de malformação nas mãos e nos pés.

Particularmente, eu, de olhos fechados, braços atados e ainda calçando sandálias havaianas, entraria em qualquer briga na defesa pela igualdade das minorias. Mas desde que não se metam com as bruxas. Especialmente, com as bruxas do cinema.

Ora, o que seria da bruxa de “João e Maria” (1987) não fosse a enorme e asquerosa verruga no queixo? Isso não faz de quem ostenta a protuberância na face um ser maligno ou monstruoso. Sem falar no provocante decote de “Elvira” (1988), o que não significa que uma mulher vestida para matar mereça ser tratada como a rainha das trevas.

Fosse assim, a associação das vizinhas desocupadas, baixinhas e bisbilhoteiras deveria se revoltar contra a Minnie Castevet, a bruxa intrometida de “Bebê de Rosemary” (1968). Assim como as velhinhas que resolveram assumir os seus cabelos brancos. Elas não merecem ser comparadas à horripilante Margaret Morgan, de “As Senhoras de Salem” (2012), ou mesmo à fantasmagórica bruxa de “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” (1999).

Que dirá então das já estigmatizadas e preteridas prostitutas velhas, já que Dario Argento escalou uma meretriz de nada menos que 90 anos para o papel de Helena Markos, a misteriosa bruxa de “Suspiria” (1977). O sortilégio sobraria até mesmo para os homens carecas, se comparados ao temível Voldemort, da franquia “Harry Potter”.

Bruxas ou bruxos, o melhor é que não se metam com eles. Ou seremos todos transformados em sapos.

Minnie Castevet (Ruth Gordon), a bruxa intrometida de “Bebê de Rosemary” (Divulgação/Paramout Pictures)
Guilherme Scarpellini

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