Filme de terror

Reprodução/GettyImages

Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Hoje é meu aniversário, mas quem ganha presente é o Dudu de Ávila. Afinal de contas, depois seis meses com os projetores desligados, parte dos cinemas de Belo Horizonte reabre neste sábado. E meu amigo de longa barba, digo, longa data, já pode garantir a sua poltrona número 13, na fila G (de Galo), donde enfim assistirá a um bom filme, depois de tomar o seu café descafeinado servido com muita prosa e nenhum atraso.

Já eu cá tenho as minhas dúvidas se me aventurarei diante da tela grande antes de sair a vacina. Fico só imaginando o meu surto paranoico dentro da sala de cinema, como se eu assistisse a um filme — de terror! — de mim mesmo.

A começar pela máscara. Eu duvido que alguém consiga manter o nariz e a boca tampados durante o filme. E olha que nem estou falando de “O Irlandês”. Mesmo uma história curtinha de Woody Allen seria o suficiente para qualquer um botar a máscara no queixo. Fora a pipoca, o beijo e o bocejo, que estão para as máscaras cirúrgicas assim como as meias estão para os cotovelos.

E depois tem a inevitável dança das cadeiras, quando os trailers acabam e as luzes se apagam. É um levanta aqui e um senta dali que eu ainda não sei por que existem poltronas marcadas. Só se desenterrássemos a figura do lanterninha para nos assegurarmos de que um grupinho não vai trapacear, aglomerando-se no miolo da sala.

E por falar em poltrona, será que a minha foi desinfetada antes de eu me sentar? E o ar? Será que é mesmo renovado de tempo em tempo? E o homem sentado a algumas poltronas à minha frente? Não está perto demais? São questões que tomariam facilmente os primeiros 30 minutos de filme. Até que eu parasse de me preocupar e me concentrasse em algo realmente grave: o primeiro espirro.

Sabemos que as pessoas tendem espirrar com mais frequência em teatros, cinemas, concertos, enfim, onde não deveriam espirrar. Só que em meio à pandemia, uma tosse, um pigarro ou mesmo uma garganta arranhando soaria como um alarme de incêndio. No primeiro espirro eu levantaria da poltrona e exigiria do diretor:

— Corta!

Que esse filme de terror eu ainda quero ver de casa.

A propósito: A 9° edição do Fliaraxá (Festival Literário de Araxá) está acontecendo, desde quarta-feira, inteiramente por meio das plataformas digitais. É só acessar o Youtube e acompanhar a programação — de casa.

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