Sandra Belchiolina
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Alguns endereços mundiais possuem valor simbólico para a humanidade e em especial para alguns profissionais. Eles movimentam turistas com demandas de estudos ou simplesmente para estar “perto” de ícones que marcaram um tempo. Em Viena, temos o Sigmund Freud Museum, localizado no número 19 da Rua Berggasse.
Ali, o criador da psicanálise viveu com sua esposa, seis filhos, e também foi seu local de descobertas sobre o inconsciente. Na mesma residência atendia a seus pacientes. A importante localidade foi reaberta recentemente após uma reforma que durou um ano e custou quatro milhões de euros.
Freud (1856-1939) formou-se em medicina e desejou avançar em pesquisas. As mesmas o levaram a descoberta de tratamentos de sintomas corporais e/ou psíquicos por meio da fala dos pacientes e das pesquisas sobre o inconsciente humano. Com ele surge a psicanálise. O prédio da Rua Berggasse presenciou momento ímpar da história da nova ciência.
Foram muitos anos de trabalho e convivência familiar no endereço – de 1891 a 1938, 47 anos; até virada de século presenciaram por lá. Pois é isso mesmo, o pai da psicanálise é do século XIX. Era uma grande mente para seu século e para a atualidade. Ele observou os homens e suas sociedades e construiu um grande legado para a ciência.
Freud deixou sua residência e trabalho em Viena para escapar dos nazistas, pois era judeu. O cientista conseguiu com ajuda da bisneta de Napoleão I da França – Marie Bonaparte, sua paciente e psicanalista posteriormente. Refugia-se em Londres, mas falece em 1939, um ano depois, com câncer no palato. Porém, o horror da época não poupou quatro das cinco irmãs de Freud que não conseguiram sair da Áustria e faleceram nos campos de concentração.
O objetivo do Museu em Viena é a preservação da memória de Freud e da história da psicanálise. Foi fundado em 1971, passou por uma reformulação em 2003 e a gestão ficou a cargo da recém inaugurada Fundação Sigmund Freud. Com a reforma e ocupando 550 metros quadrados, reabriu suas portas permitindo um caminhar como os pacientes de Freud.
“Ao tocarem a campainha, os pacientes passavam por um sóbrio corredor, onde penduravam casacos e guarda-chuvas. O acesso a esse espaço é novidade e revela, finalmente, o trajeto para ingressar na sala de espera do doutor Freud”¹. O ambiente foi recriado com móveis originais, doados por sua filha caçula Anna, nos anos 70. A antiga cozinha da casa é conectada por meio de uma nova escadaria.
Os relatos são de que os pacientes passavam por essa cozinha na saída para não serem identificados. Áreas de convívio familiar foram abertas ao público e mostram curiosidades da família Freud. No primeiro andar, situa-se a biblioteca que é considerada a maior para pesquisa psicanalítica da Europa, são 40.000 livros e mídias interativas.
Não espere o famoso divã de Freud nesta sua casa. Ele está na de Londres, em um outro museu em sua memória. No seu consultório, local onde o mesmo ficava em Viena, hoje, um lugar vazio. Nada mais próprio para a psicanálise – de onde aprendemos com Freud: em um vazio, algo se constrói.
Referências:
¹Neves, M. A Vida Íntima de Uma Lenda, Revista Veja, 14 de outubro de 2020, ed. 2708.