Categories: Eduardo de Ávila

Desconfortos e novidades do novo cotidiano

Eduardo de Ávila

Na idade em que me encontro, mesmo tendo curtido a vida adoidado desde a infância e – especialmente – adolescência, estou experimentando sistemáticos toques de recolher. Meus programas de bares e noitadas já há muito deram lugar à cafeterias com boa prosa, sem álcool (já tomei uma carreta e meia de cerveja enquanto consumia) e dormir cedo.

Na medida do possível, claro! No domingo, anteontem, quem mora na região da Serra – como eu – seguramente não conseguiu sossego à noite. Um som, horroroso por sinal, invadiu as residências e não deixou os moradores pegarem no solene e merecido sono.

Tentei, sem sucesso, descobrir de onde vinha essa insanidade. Tapar os ouvidos não resolveu o desconforto. Mais tarde, tomando comprimido para a inevitável dor de cabeça – associado a outro remédio para dormir – consegui sobreviver ao mau gosto alheio. Já nem me refiro à preferência musical, mas ao volume e horário.

Ao acordar, com mau humor – lógico – fiquei a lembrar da época que não me dava conta em incomodar aos mais velhos e o que daquilo possa ter causado aos (como eu agora) idosos. É uma sacanagem. Daí, rabugento – confesso que estou me tornando – lembro-me de outro desconforto vivenciado dias antes. Neste caso, sem terceirização de responsabilidade, uma vez que fui causador e vítima da situação.

Estou experimentando esquecimento e perda de objetos. Desde coisas a fazer até mesmo algumas outras que tenho de levar comigo. Documentos pessoais, encomendas – isso na verdade nunca gostei de carregar e nem de ocupar terceiros – e de me prevenir ao sair para a rua. É recomendável fazer xixi antes de passar aperto.

Comemoração de um ano blog Mirante

Pois bem, semana passada, num encontro comemorativo com as parceiras e o parceiro deste blog, tivemos uma noite gostosa de prosa e projetos futuros. Ao sair, tive o cuidado de passar no banheiro do Diamond, antes de tomar o Uber de volta. Despedimo-nos, todos felizes, e ao chegar em casa uma inesperada surpresa. Cadê minhas chaves?

Depois de eliminar e revisar cada bolso e até noutros eventuais lugares inimagináveis, constatei que tinha perdido o chaveiro. Foi a conta de a bexiga avisar que queria eliminar a quantidade de água mineral que havia tomado. Menos mal, imagina se fosse outro tipo (o dois) de aviso e aperto.

Tentando me segurar ao eventual desespero, passei a imaginar como resolver o impasse, até que me dei conta de que a moça que organiza minha casa tem uma cópia e mora por perto. Talvez essa quase uma hora para contatar, buscar e efetivamente entrar solenemente em casa, possa ter parecido uma eternidade. E foi! A cada segundo a caixa d’água ameaçava romper.

Ao constatar que estava solucionada, a impressão que se tem é que o duto quer logo romper esse caminho para a eliminação do líquido. Rindo e aliviado do meu próprio infortúnio, mal consegui atravessar o corredor do apartamento para abrir as comportas da barragem que ameaçava o rompimento. Tanto dentro de casa quanto do desespero que ameaçou durante todo esse tempo.

Desde então, só tem uma semana, passei a me policiar ainda mais ao sair de ambientes que me possam me sugerir outro momento de terror e desespero. E mais, a checar onde coloquei o chaveiro, documentos, cartões e tudo que preciso para poder ir até o shopping tomar meu sagrado café descafeinado. Ah! O chaveiro foi, gentilmente, devolvido pelo Uber que me levou até ao encontro com a turma do Mirante.

Em tempo: a partir de hoje, ainda que ocasionalmente, vamos abrir espaço ao leitor que queira postar aqui no Mirante. A partir de 15h, sobe uma interessante aventura da leitora Joana Storino. Nascida em Pedro Leopoldo – MG, em 17 de junho de 1988, Storino é Angiologista e Cirurgiã Vascular, além de Professora de Anatomia na Faculdade de Ciências Médicas de MG. Atua nas artes através da Pintura e da Literatura. No ano de 2018, visitou o grande deserto do Atacama, no Chile, onde atravessando a região dos vulcões Licancabur, Quimal e Juriques, fez o inesquecível passeio em busca da “Librería del Desierto”.

*
Curta: Facebook / Instagram
Blogueiro

View Comments

Recent Posts

Momentos de fragilidade.

Silvia Ribeiro Tenho momentos de fragilidade. E quem não tem? Fico pensando. No que me…

3 horas ago

Namoro

Mário Sérgio Algumas dúvidas sempre nos afligem por gerarem insegurança até quanto ao que representamos…

21 horas ago

No aeroporto

Rosangela Maluf Ao descer do avião, tudo parecia estar em silêncio naquele aeroporto tão movimentado.…

1 dia ago

A jaqueta Adidas do Galo

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Realizei o meu sonho de comprar uma jaqueta Adidas do Galo, justamente…

2 dias ago

Amarrando o cadarço

Peter Rossi (Pai sentado, lendo o jornal. Penumbra. Vento ao longe. Um copo de conhaque,…

2 dias ago

Devorador de livros

Taís Civitarese O cachorro deu para comer meus livros. Isso me trouxe um profundo desgosto.…

3 dias ago