Na idade em que me encontro, mesmo tendo curtido a vida adoidado desde a infância e – especialmente – adolescência, estou experimentando sistemáticos toques de recolher. Meus programas de bares e noitadas já há muito deram lugar à cafeterias com boa prosa, sem álcool (já tomei uma carreta e meia de cerveja enquanto consumia) e dormir cedo.
Na medida do possível, claro! No domingo, anteontem, quem mora na região da Serra – como eu – seguramente não conseguiu sossego à noite. Um som, horroroso por sinal, invadiu as residências e não deixou os moradores pegarem no solene e merecido sono.
Tentei, sem sucesso, descobrir de onde vinha essa insanidade. Tapar os ouvidos não resolveu o desconforto. Mais tarde, tomando comprimido para a inevitável dor de cabeça – associado a outro remédio para dormir – consegui sobreviver ao mau gosto alheio. Já nem me refiro à preferência musical, mas ao volume e horário.
Ao acordar, com mau humor – lógico – fiquei a lembrar da época que não me dava conta em incomodar aos mais velhos e o que daquilo possa ter causado aos (como eu agora) idosos. É uma sacanagem. Daí, rabugento – confesso que estou me tornando – lembro-me de outro desconforto vivenciado dias antes. Neste caso, sem terceirização de responsabilidade, uma vez que fui causador e vítima da situação.
Estou experimentando esquecimento e perda de objetos. Desde coisas a fazer até mesmo algumas outras que tenho de levar comigo. Documentos pessoais, encomendas – isso na verdade nunca gostei de carregar e nem de ocupar terceiros – e de me prevenir ao sair para a rua. É recomendável fazer xixi antes de passar aperto.
Pois bem, semana passada, num encontro comemorativo com as parceiras e o parceiro deste blog, tivemos uma noite gostosa de prosa e projetos futuros. Ao sair, tive o cuidado de passar no banheiro do Diamond, antes de tomar o Uber de volta. Despedimo-nos, todos felizes, e ao chegar em casa uma inesperada surpresa. Cadê minhas chaves?
Depois de eliminar e revisar cada bolso e até noutros eventuais lugares inimagináveis, constatei que tinha perdido o chaveiro. Foi a conta de a bexiga avisar que queria eliminar a quantidade de água mineral que havia tomado. Menos mal, imagina se fosse outro tipo (o dois) de aviso e aperto.
Tentando me segurar ao eventual desespero, passei a imaginar como resolver o impasse, até que me dei conta de que a moça que organiza minha casa tem uma cópia e mora por perto. Talvez essa quase uma hora para contatar, buscar e efetivamente entrar solenemente em casa, possa ter parecido uma eternidade. E foi! A cada segundo a caixa d’água ameaçava romper.
Ao constatar que estava solucionada, a impressão que se tem é que o duto quer logo romper esse caminho para a eliminação do líquido. Rindo e aliviado do meu próprio infortúnio, mal consegui atravessar o corredor do apartamento para abrir as comportas da barragem que ameaçava o rompimento. Tanto dentro de casa quanto do desespero que ameaçou durante todo esse tempo.
Desde então, só tem uma semana, passei a me policiar ainda mais ao sair de ambientes que me possam me sugerir outro momento de terror e desespero. E mais, a checar onde coloquei o chaveiro, documentos, cartões e tudo que preciso para poder ir até o shopping tomar meu sagrado café descafeinado. Ah! O chaveiro foi, gentilmente, devolvido pelo Uber que me levou até ao encontro com a turma do Mirante.
Em tempo: a partir de hoje, ainda que ocasionalmente, vamos abrir espaço ao leitor que queira postar aqui no Mirante. A partir de 15h, sobe uma interessante aventura da leitora Joana Storino. Nascida em Pedro Leopoldo – MG, em 17 de junho de 1988, Storino é Angiologista e Cirurgiã Vascular, além de Professora de Anatomia na Faculdade de Ciências Médicas de MG. Atua nas artes através da Pintura e da Literatura. No ano de 2018, visitou o grande deserto do Atacama, no Chile, onde atravessando a região dos vulcões Licancabur, Quimal e Juriques, fez o inesquecível passeio em busca da “Librería del Desierto”.
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Você escreveu muito bem. Parabéns.