Nas horas vagas, que são muitas, dependendo do meu estado de humor, penso que nem em todo o silêncio do universo seria possível fazer caber a brevidade da vida. Dizem por aí que o tempo é uma convenção. Convenção ou não, ele não deixa de acontecer.
É tudo muito breve e justificável. De repente, não tenho mais horas vagas. O silêncio da contemplação tomou todos os meus anos. Quando dou por mim, passei mais dias argumentando sobre os meus nãos do que imaginando como poderia ser a permissão do sim.
Então, não existe mais tempo, ou, como diz um autor que gosto de citar: “enfim, não haveria mais revolta.” Como se a revolta fosse administrável. Talvez pensasse isso baseado em falas de certos chefes de estado. Uns certos propensos a certas coisas que não importa o que dizem, não há revolta.
No final das contas, após refletir – nas minhas horas vagas – passo a concordar com os dizeres do coro. O tempo é sim uma convenção – mas nós não somos. Se fossemos seríamos duvidáveis, esgotaríamos, poríamos em prova a própria existência humana. Não fazemos isso. Afinal, somos do bem.
Estamos, no entanto, presos para sempre no Jardim do Éden, eternamente tentados, mas sempre fortes. Sozinhos, até chorarmos alto demais por um espelho, alguém que possamos dar um pedaço nosso; sempre sem direção, sempre sem saída. O clube 04 vigia diariamente nossa movimentação. Mas, tende bom ânimo. Seremos eternizados nas pinturas nuas da renascença; contarão nossa história ao futuro. Nós chamarão de “Os Escolhidos”.
Não teremos a mesma sorte dos expulsos. Fecharam nossa fuga ao Norte. O 03 responsável tratou de fazer muito bem o seu trabalho. Mas, não há com o que se preocupar. Agora, temos uma bandeira pura – em todos os sentidos. Afinal, “eu sei que isso não é virtude, é obrigação. Para nós, fazemos um governo de peito aberto.”
Não há revolta.
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- O Segundo Suspiro – Livro por Philippe Pozzo di Borgo – 2013
- Fala do Presidente Jair Bolsonaro sobre o encerramento das investigações da Lava-Jato.