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Minha permanente adolescência

Eduardo de Ávila

Nesses mais de 150 dias de isolamento social, onde cada um de nós pôde experimentar os mais diferentes sentimentos, estou preparado para viver minha plena melhor idade até que o Criador me chame de volta ao seu convívio. Semanalmente, neste espaço, e diariamente, no blog de futebol, me esforcei por estar ligado na vida lá fora.

Concomitante, ainda estive atento ao meu home office, físico, bons pensamentos e um verdadeiro exame (de consciência) sobre tudo que já vivi nesta existência. Creio que estamos caminhando para o final dessa prisão domiciliar e sonho com os dias de liberdade. Sinto falta de ver gente, cinema, jogos do meu time, cafezinho e boa prosa.

Ao sair, vou privilegiar ainda mais essas vivências que sempre me foram muito prazerosas. Viver, com as delimitações que o tempo e a idade impõem, toda minha exuberância e vigor que der conta. Sério! Fui, sou e estou um adolescente. Durante minha vida toda. Sempre busquei viver o calor de cada momento.

Desde realizações pessoais até profissionais. Menino tímido tive de enfrentar essa dificuldade para me impor. Sofri com “bullying”, covardemente, no ginasial. Fui superando, passo a passo, cada dificuldade que a vida me apresentava. Assumi uma postura de irreverência que afastou os fantasmas. Aquela coisa, “assombração sabe para quem aparece”. Então espantei e intimidei os algozes.

De bom aluno no primário, fui péssimo no ginásio e científico, o que me valia uma dura profecia. “Não vai dar em nada na vida!” Desafiei essa pregação e me formei em Direito e Jornalismo. No primeiro atuei pouco tempo e na segunda formação me realizei. Tenho as duas carteirinhas e faço questão de estar em dia com as entidades representativas. OAB e FENAJ.

Exerci um mandato de vereador na minha Araxá – fato que, seguramente, é o que mais me enche de orgulho -, com pouco mais de vinte anos. Cumpri a missão com zelo e comprometimento. Arrisco afirmar ter sido um bom edil.

Ao longo da vida, ajudei muitas pessoas e com o maior carinho, mesmo que algumas poucas entre elas depois tenham fugido e evitado esse reconhecimento. Faria tudo de novo. Até uma grande empresa que tinha um processo engavetado de seu interesse, me usou e depois sequer fez um único gesto de reconhecimento. Pessoalmente ou até mesmo por cartão ou e-mail.  Na ocasião, assim como ainda acontece hoje, a burocracia trava coisas simples. Fazer o quê? Rio!

Nunca me considerei melhor que ninguém, tampouco pior que quem quer que seja. Fui, algumas vezes, desdenhado. Soube sofrer, superar e ainda dar o troco. Isso mesmo, como disse a uma amiga que me elogiou dizendo que eu era uma pessoa muito boa. Ela se referia sobre atender e tentar ajudar quem me procurava com alguma demanda. Respondi que “quando era mau, era muito melhor”.

Porém, jamais prejudiquei qualquer pessoa, até porque minhas “maldades” sempre foram explícitas, embora em dois episódios, que nada tive relação, tentaram imputar a mim responsabilidade que não tive. Um já até mudou de plano e com o outro convivo sem cobranças. Jamais polemizei sobre isso, afinal, sei que ambos precisavam dar satisfação ao seu bando, e quando reajo o faço sem dissimulação.

Minha juventude foi intensa. Precocemente adolescido, venho estendendo esse momento da vida ao longo de algumas décadas. Não tem fase melhor. Namorar duas a três em cada período de férias. Dias seguidos de festas. Morar em repúblicas, onde a cada dia um entre os moradores tinha algum motivo para agitar a todos. O fogo e a animação me acompanham até hoje. Ainda que em menor escala.

Depois casei, sou pai (creio que um bom pai), descasei; sofri, diverti; chorei, comemorei; ganhei e perdi eleição; meu time foi campeão e também rebaixado. Tudo isso dentro dessas seis décadas muito bem vividas. Parece pouco tempo para tanta coisa. Ao mesmo tempo sinto como se uma eternidade. Poucos desejos deixei de realizar. Pouquíssimos mesmo!

Não sei quanto tempo me resta, para quem abusou durante um bom tempo de vícios, até que despertei. Fumei e consegui vencer. Bebi e também superei. Ambos apenas consumo de produtos lícitos, nenhum deles de drogas ilícitas. Creio muito nas palavras de Jesus e, desde que comecei a frequentar uma casa de oração, minha vida ficou ainda melhor.

Só sei que gostaria de ainda ver o meu time levantar muitos títulos estaduais, nacionais e internacionais. Assistir jogos na cadeira cativa do novo estádio em construção. Curtir as boas amizades que a vida sempre me proporcionou.

E, por fim, sem entrar no mérito, uma vez que cansei de falar de epidemia e momento político/econômico brasileiro. Quero presenciar as pessoas nas praças e ruas convivendo em harmonia, sendo solidárias e o Brasil nas mãos de quem realmente se preocupe e trabalhe pelos brasileiros.

É meu sonho para essa nova fase da adolescência que 2020 me despertou. Pelas contas que faço, creio que isso sugere minha presença aqui na Terra por mais meio século. Afinal, tenho de viver e me deliciar com essas conquistas. Te espero no meu centenário. Que assim seja!

*

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  • O segredo da eterna juventude está em não permitir que o espírito envelheça e o segredo da lucidez é não acreditar em juventude eterna.
    Sigamos meu amigo temporão!
    PS: Se me permites; assino com o relator qto ao 14º parágrafo.

  • No ..."minha permanente adolescência"...será que "colou"de mim....muito parecido fom minha história...só que ainda tive alguns percalços na saúde...Câncer..Colostomia definitiva(20anos)..AVC...pressão alta.. E por ultimo diabético...no resto seu texto foi "copiado" das minhas memorias....65anos...bem vividos...e tb com o "gran finale"...ver nosso Amado CAM...ser campeão de tudo...te conhecer e se tornar seu amigo foi um presente de Deus....grande abraço...

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