Depois que eclodiu o levante contra as estátuas de racistas no mundo, eu passei a olhar torto para os homens de pedra que cruzam o meu caminho.
Primeiramente, porque são todos homens brancos. Observam-nos de cima para baixo, com a arrogância de quem não desce do pedestal. Depois, ainda que fossem homens e mulheres de pele negra, não seriam negros, mas, invariavelmente, cinzas, sem graça, sem cor — verdadeiros arautos supremacia cinzenta.
Outro dia, descendo a Afonso Pena, dou de cara com um desses. José da Silva Xavier, o Tiradentes. Ele estava cercado de gente, que vestia a estátua com máscara e avental. Uma faixa explicava a intervenção: “a profissionais da saúde, policiais, bombeiros e imprensa”.
Um policial viu aquilo e encostou a viatura. Conversou com um aqui e outro ali, e não teve outro jeito: acabou pedindo para fazer uma selfie com a galera.
Depois se mandou. Sem saber que os verdadeiros agraciados não poderiam estar ali. Porque foram mortos pela polícia. “Fora, racismo”, dizia outra faixa, em homenagem a George Floyd — e também a João, Antônio, José, Pedro, Carlos.
Parece que a escolha do monumento não foi por acaso. Nesta semana, o jornalista Laurentino Gomes, autor de “Escravidão” (Globo Livros, 2019), lembrou no Twitter que Tiradentes era proprietário de seis escravos, em 1792, quando morreu enforcado.
Logo, a sua estátua deveria vir abaixo, como a escultura do mercador de escravos Edward Colston, que foi parar no rio, em Bristol?
Penso que não. Melhor que ela faça mesmo como uma estátua — e não vá a lugar algum. Que sirva de palco para mais protestos. E que ao lado dela seja erguida a imagem de Zumbi dos Palmares — enorme, robusta e de bronze negro.
Façamos, pois, o que recomenda o filme do diretor Spike Lee: “Faça a Coisa Certa”, de 1989.
Na história, um grupo de jovens negros se rebela contra um homem branco. Ele é dono de uma pizzaria no Brooklin e se nega a incluir a imagem de um negro na sua “parede da fama” — ali só tem espaço para os retratos de ítalo-americanos ilustres.
Deu-se um quebra pau.
Um jovem negro acabou capturado pela polícia. Morreu asfixiado, ali mesmo, na frente de todos — uma predição tétrica do que aconteceria em Minneapolis, 31 anos depois.
Tal qual na vida real, houve confronto com a polícia, incêndio e depredação. Mas um manifestante conseguiu a façanha. Acabou dependurando na “parede da fama” a imagem de não só um negro, mas de dois: Martin Luther King e Malcolm X.
Passou da hora de homenagearmos os nossos heróis negros.
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