Muito amor e ela

Taís Civitarese

Sei que me torno repetitiva. Mas não escrever sobre ela seria mentir.

Hoje faz três meses que ela se foi.

Anteontem, foi meu aniversário. Três meses exatos depois do aniversário dela. Durante 38 anos, moramos em cidades diferentes. E por 38 anos nos falamos nesse dia. Onde estivesse, ela me telefonava. Sempre alegre, sempre amorosa.

Ontem, tive uma grande festa na minha pequena família de quatro pessoas. Crianças em casa gostam de bolo (me disfarço entre elas). Tive direito também a uma faca musical que canta parabéns (ganhei da minha amiga do prédio!) e brigadeiro fresquinho (feito por minha doce mãe, nesse caso). 

Foi um dia leve, de alegria e de coisas engraçadas. Amigas que nunca ligavam passaram horas comigo ao telefone. Amigas para quem nunca ligo conversaram por mais outros longos minutos. Tias, primas, colegas me enviaram recados. Recebi uma infinidade de carinho, o que em grande parte acalentou o isolamento social impositivo dessa época. 

Fui dormir às duas da matina, bastante feliz e com o coração quase pleno. Faltava uma coisa. Faltava ela.

Pela primeira vez, meu telefone não tinha tocado naquele dia do ano com o retratinho dela aparecendo. Na foto que tenho, ela está de cabelo pintado, usa uma blusa vermelha e um colar de pérolas.

Esse sentimento me invadiu profundamente e a falta dela se fez mais presente e maior. Ali percebi, novamente e de um jeito bem forte, que ela jamais me ligaria de novo. E mesmo em meio a muito amor, desabei.

Então, em uma atitude semi-mórbida e levemente alucinada, não me conformei em não ouvir sua voz. Catei meu celular e fui buscar o último áudio que ela me enviara, meses antes. Com sua doce voz, ela dizia essas exatas palavras: “Estou bem, estou sendo muito bem cuidada. Está tudo tranquilo. Amo muito você e sua família”.

Aquilo preencheu meu coração e fez tanto sentido! 

E foi assim que agradeci aos meus amigos queridos e parentes amados por alegrarem minha vida, e a todo o Vale do Silício por terem me permitido saciar em parte uma saudade que jamais acabará. 

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Tais Civitarese

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