Sem saber como e sem ter qualquer perspectiva de quando será que vamos sair desse confinamento, o pensamento voa e tenta projetar o futuro. Notadamente, sobre as relações pessoais, que andavam em estado de deterioração antes do “tranca rua”, às vezes as imagino amenas, mas algumas manifestações em redes sociais não me animam tanto.
Vivemos uma situação no Brasil, agravada por um embate político sem fim, graças à radicalização dos dois extremos. Domingo foi um experimento negativo, sob a orquestração de quem deveria incentivar o apaziguamento. Como tenho posições definidas e explícitas, entendo que essa situação teve origem no inconformismo dos conservadores às conquistas sociais de pessoas de baixa renda. Não aguentaram.
Ainda assim, relevo tanta insanidade que leio e ouço, desde 2013. Isso foi determinante ao estado delicado que passam todos os brasileiros. Muita coisa deveria e precisa ser apurada, mas a morosidade e a falta de interesse no esclarecimento da verdade dificultam as ações. Até entendo o motivo. Quem não quer é quem tem “culpa no cartório”!
Vou dar pequenos exemplos. Numa consulta pública sobre a criminalização das fake news, que a meu juízo deveriam ser de modo incontinente apuradas e punidas, vencia o NÃO. Ou seja, seguramente contando com votos de “robôs”, aqueles que gostam da mentira e da notícia falsa estão optando por manter a situação sem o rigor de uma legislação punitiva.
No fim de semana, recebi por whatsapp uma curiosa mensagem. #EuApoioHeleno. Daí, considerando que era de uma pessoa de minhas relações – embora desse tipo de gente que devo deletar – resolvi seguir a brincadeira. Respondi zoando que depois de Moro e Bozo, agora a opção então seria o Heleno.
Acreditem, até liguei por telefone, para o massacre final. A resposta era de que seria um contraponto ao já distante movimento da campanha “Ele Não”. Ao ligar, constatei que a pessoa tinha feito um Ctrl C + Ctrl V e nem sabia da existência do general Heleno, um ultraconservador. É esse o perfil dos defensores e apoiadores dessa insanidade.
Daí, em meio aos devaneios do isolamento, me lembro de uma amiga dos tempos de infância e adolescência lá em Araxá. Ela me acha “comunista” e “petista”, mesmo sabendo que nunca fui de nenhuma das duas esteiras. Pois bem, numa das prosas durante o confinamento – por ligação dela – fui surpreendido com tanta desinformação.
O pavor da moça, da minha idade e com formação superior em Direito, é que num possível avanço das forças progressistas ela corria o risco de perder suas terras. A título de informação. Pouco mais de 200 hectares, oriundos de herança, que é explorada por terceiros através de arrendamento.
Tentei até explicar que seu patrimônio é insignificante para uma eventual reforma que venha a atender à justiça social. Justifiquei que essa sua terrinha jamais seria alcançada em ações dessa natureza. Ao que percebi, não gostou, pois quer se sentir empoderada mesmo sendo um zero à esquerda dentro da economia.
E são pessoas com esse perfil que ainda alimentam o ódio e tanto ajudam forças conservadoras a se valerem disso para explorar e se manter no poder. Os mais sacrificados, incrivelmente, são esse tipo de gente. Classe média que se fantasia de poderosa. No fim de semana, uma foto do PR com gravata ostentando metralhadora, encontrou quem não visse nisso uma provocação. Teve até quem tentasse justificar. Vai entender!
Até nossa indignação para esse tipo de gente merece confronto e condenação. Reagem aos gritos, com histeria e até na ameaça física. Enquanto isso, a imagem do país no exterior derrete numa situação que o Brasil e brasileiros irão levar décadas para recuperar. Em nome da barbárie de 10% a 15% que rasgaram seus livros de história dos tempos de ensino básico e médio. Nem falo Constituição. Sequer sabem a respeito.
Daqui do meu canto, sigo buscando forças e mais resignação para sobreviver a tanta desinformação. Burrice mesmo. De alguns, canalhice! Milton Nascimento, com sua canção “O rouxinol” me embalou no final de semana. “Rouxinol me ensinou, que é só não temer, cantou, se hospedou em mim. Todos os pássaros, anjos dentro de nós, uma harmonia trazida, dos rouxinóis”. Esse pássaro inspira leveza e delicadeza, com seu timbre vocal, som alegre e vivo.
Ainda no sábado, ouvindo uma reunião de um grupo de orações, uma frase me chamou a atenção. “Durma com os cavalos e acorde com os burros”. Sem retaliação, uma vez que estou afim de um mundo melhor, mas foi muito apropriada ao momento. Por mais que estendamos as mãos, que chamemos para uma reflexão sobre o momento político e epidemiológico que passamos, tomamos coice. Então, como será o amanhã?
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