Eduardo de Ávila
Sou adepto ao pensamento de que não existe idade para o aprendizado. Constantemente exerço a possibilidade de rever conceitos e valores. Sou o oitavo filho, temporão, sempre brincando com essa situação entre meus irmãos.
Minha mãe chegou a ter dúvida em relação à chegada de mais outro filho naquela vida difícil que viviam nos anos 50. Para piorar, ela, PSD e meu pai UDN – ele escolheu meu nome para homenagear o Brigadeiro. Só os antigos entenderão!
Assim vim ao mundo e fui rebelde, notadamente, com relação aos estudos, dando muito trabalho aos meus pais antes de entrar na faculdade. Fiz um primeiro curso, numa escola muito apertada, e tempos depois fui buscar meu verdadeiro desejo profissional.
Com isso, aquele adolescente que não gostava de estudar conquistou dois diplomas de curso superior. Direito e Jornalismo. Algo inimaginável para quem ouviu várias vezes que não daria em nada na vida.
Tenho cá minhas opiniões a respeito dos assuntos mais polêmicos. Futebol, política e religião. Todos eles, nada relacionados com a rebeldia na minha criação.
De pais flamenguistas, conservadores e católicos, me tornei Atleticano, progressista e kardecista. Cada escolha foi com o tempo. A primeira ainda criança, a segunda já na adolescência e a terceira tem vinte anos.
Posso considerar minha vida pessoal e profissional realizada, além de contemplada por conviver bem com pessoas que pensam diferente das minhas convicções. Nem sempre correspondido, mas evitando – na medida do possível – confrontar com os divergentes.
Para tanto, tem mais de três décadas que frequento diferentes divãs – tanto de profissionais quanto de linhas da psicologia. Sempre, na minha primeira consulta, a resposta à pergunta clássica do que me levou até ali é “aprender a conviver com as minhas incoerências”.
Somos, na verdade, muito incoerentes conosco e – especialmente – com terceiros. Egoísmo, vaidade, orgulho e tantas outras condições que não admitimos – ainda que num exame de consciência – e que sempre dificultam nossas relações pessoais.
Na família, vizinhança, trabalho ou onde quer que seja, trazemos no interior, bem lá no íntimo, a arrogância e a pretensão de sermos donos absolutos da verdade. O que é uma boçalidade.
Nestes dias, que já superaram uma quarentena, uma vez que estou chegando é na “cinquentena”, tenho pensado muito em como será a vida depois do confinamento. Irá mudar? Às vezes acho que sim e muito; noutros momentos receio que nem tanto.
Que será diferente, é evidente, mas nossas convicções pessoais continuarão a determinar as relações? Receio muito. Baseado no que leio, diariamente, pelas redes sociais.
Durante este período, aprendi a lavar louças e utensílios, o que nunca tinha feito nos meus 62 anos. Tentei e fui derrotado ao usar a máquina de lavar. Me flagrei na correria para iniciar o dia, sendo que nem de casa tenho saído.
Nas poucas vezes que tive de ir a algum lugar, me portei como um astronauta com tanta prevenção, usando máscara e luvas. Fazer ginástica em casa e tomar sol pela janela, quando imaginei isso? Tudo isso sozinho.
Pois bem, como será o final dessa tempestade? Não consigo ter uma resposta pronta. Confesso que o home office tem me agradado – tem dias que sou mais produtivo do que na rotina normal do meu trabalho. Ficar sem cafeteria e cinema no telão ainda me assusta. E os jogos do meu time então!
Estou convivendo bem com a desnecessária correria. O dia está maravilhosamente intenso. Três refeições, seguidas de arrumação na cozinha.
Exercícios que me tomam meia hora por dia. Pouquíssima TV, quase nada, pois só servem para aguçar a angústia. Leio o básico sobre o avanço da doença, até para se ter uma noção da distância da luz no fim do túnel. Intuo que estou avistando alguns reflexos dessa claridade.
Meus filmes, desde a semana passada, pela Netflix, começaram a ficar em dia. Duro ver pelo computador, uma vez que confesso dificuldade no seu uso desde quando ele substituiu minha máquina de escrever. Reciclei e hoje convivo melhor, sem precisar do corretivo ou datilografar páginas para corrigir eventuais erros.
Em meio a tudo isso, tenho absoluta convicção de que – caso o vírus não fure o bloqueio que criei para evitar nosso encontro – vou sair desse isolamento menos ansioso e sem a pressa que me acompanha a vida toda na solução das empreitadas que me disponho a participar.
Será?
*fotos: arquivo pessoal
Tudo na vida pode ser uma lição, aprendizado. Os erros e falhas também são aprendizados, pois descobrimos o que funciona e o que não funciona na nossa vida. Só não aprende quem fica parado esperando acontecer,aí é fatal!
Fiquem bem.