Aprendendo com o confinamento

Aprendendo com o confinamento.
Eduardo de Ávila

Já se passou um bom tempo desde o início do isolamento, sem qualquer perspectiva ou previsão do final desse martírio. Martírio? Depois desse período, iniciado em 15 de março, imaginei duas semanas.

Mais à frente, passei a admitir um mês. Superando essa marca, comecei a desconfiar de outro período de 30 dias. Hoje tenho duas convicções: não existe prazo para o fim do confinamento e tampouco considero essa fase um martírio.

Tenho recebido muitas mensagens, agradáveis ou não, e seleciono as que julgo merecer leitura.

Entre tantas coisas interessantes, sobretudo por frequentar Casa Kardecista há cerca de duas décadas, estou entre aqueles que acreditam que essa pandemia veio para provocar profundas mudanças na humanidade.

Daqui do meu cantinho, com muita vontade de retomar a normalidade dos meus e nossos dias, confesso total e completa resignação com o momento.

Tento, na medida do possível, otimizar meu tempo entre o home office a que estou submetido e acompanhar as informações sobre o vírus na minha cidade, estado, país e mundo.

Confio na OMS e felicito governadores e prefeitos que não medindo esforços, optaram pelo isolamento social.

Lamento muito a politização do assunto, nem falo em ideologização, pois o que assistimos é o conflito entre seitas radicais, que só estão trazendo confusão e alimentando desavenças entre pessoas com quem sempre tiveram proximidade.

Tudo isso, inegavelmente, teve início no dia 17 de março (histeria) e foi agravado no dia 24 de março (atleta/gripezinha), em dois pronunciamentos infelizes e que afloraram os ânimos dos brasileiros.

Deixando esse ato desproposital à margem, duas considerações julgo relevantes ao que trago à nossa reflexão.

Quando tudo isso terminar – lógico que vai ter um final, embora não possa prever quem sobreviverá e como estará a economia – os brasileiros precisarão ter à sua frente um líder que nos reencaminhe para o entendimento. Não há lugar para radicalismo.

Sequer estou insinuando impeachment, uma vez que não suportaríamos outro trauma dessa ordem nos tempos atuais.

Mesmo considerando que existem motivos muito maiores que um Fiat Elba ou pedaladas, entendo que os brasileiros – ainda com a agravante da doença desconhecida – não resistiriam para essa saída constitucional. É recomeçar tudo.

Existe, entretanto, quem pensa diferente e confia na resistência para um novo processo de impedimento.

Fico daqui lembrando de tantos líderes que o Brasil teve – com alguns deles, até tive proximidade -, mas que já se foram ou estão fora de combate.

Tancredo Neves, Itamar Franco (ambos de Minas Gerais e sendo o segundo meu ídolo), Franco Montoro, Leonel Brizola (que me causou uma dupla surpresa quando o encontrei no gabinete do então presidente Itamar. Baixinho, mas com um carisma que preenchia todo o espaço daquela imensa sala) e ainda o único que ainda está entre nós, o gaúcho Pedro Simon.

Todos nacionalistas e independentes de grupos radicais que, ao final desse pandemônio, ameaça nos colocar em confronto permanente.

Nenhum dos que mencionei acima deixou entre seus herdeiros alguém que pudesse ser o nosso guia nessa reconstrução.

O neto do primeiro, que chegou a ocupar cargos relevantes, é pior do que os dois extremos que estamos subjugados. Pecou pela falta de moral e ética. Inconfiável!

Para agravar ainda mais, pelo que tenho acompanhado, se não aprendermos durante esse confinamento a tendência é dele se prolongar por ainda mais tempo, até que a humanidade entenda o recado que vem lá do Alto.

Não adianta se apegar à religião –  qualquer que seja ela – dando dízimo (tem pastor cobrando sobre o auxílio de 600 reais) ou recebendo o sacramento da eucaristia. Isso não é o que o Criador quer e espera em nossas mudanças de comportamento. Ele sinaliza por amor e respeito ao próximo.

Por fim, motivado por uma profissional da saúde, fui ler um pouco sobre o funcionamento do sistema límbico dentro do nosso cérebro.

Vale à pena dar uma conferida, a mim ajudou no controle das emoções. Estamos agindo de maneira impulsiva às manifestações que contrariam nosso pensar.

Impressiona quando leio pessoas – que a mim pareciam equilibradas e sensatas – defenderem o uso da força para encerrar o isolamento. E tantos que acreditam ser donos da verdade e, a todo o momento, borram que “estou dizendo isso desde…”. Haja tanta khção de regra.

Nenhum de nós que partimos para o embate temos qualquer conhecimento científico e até econômico da situação. Equilíbrio entre o sentir, pensar e reagir é fundamental neste momento.

Estou gastando menos tempo no computador e dedicando melhor ocupação em meditações, boa prosa – por telefone ou whatsapp – e orações. Me sinto muito melhor!

Em tempo: não estou imune à tentação, afinal, controlar esse sistema no cérebro exige muita disposição. E, atacados, temos o ímpeto da reação. Quase sempre infeliz!

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