Coisas que não são vírus

Coisas que não são vírus – Foto: Pixabay
Taís Civitarese

Ontem teve a Super Lua, mas eu nada vi. 

O céu estava nublado, coberto por sombras acinzentadas que se  moviam de forma irregular. 

No entanto, saber que por trás daquelas manchas brilhava a lua me trouxe alívio. Ela estava lá, com todo o seu esplendor e circunferência, ouvi dizer. Apenas não estava visível para mim… Ao procurá-la por alguns minutos, empenhei-me em vasculhar outros planos embaçados, foquei na busca de outra solução luminosa para o enigma (da noite). Não encontrei. Mas não importa.

Há alguns desafios mais agradáveis do que outros. No abrir da janela, longe dos jornais e das telas inquietas, olhei para o escuro e senti um cheiro diferente. Um cheiro conhecido. O cheiro das noites da minha infância, quando o ar era mais preto e menos sujo.

Há muito tempo não sentia esse cheiro. O ar da minha noite costuma permear-se de fritura e de barulhos de ônibus. De muitas, muitas luzes fluorescentes. Dessa vez, parecia outro ar. Há muito tempo não sentia esse cheiro. Era um cheiro bom. E isso me trouxe esperança.

Hoje à noite, decidi que irei procurá-la de novo. Se a vir, concluirei minha busca ao tesouro. Se o céu não cooperar, fingirei frustração, mas sei que, ainda assim, terei o cheiro. E ele se infiltrará nos meus sentidos assim como a beleza da lua faria. E ali, mesmo no escuro, na dúvida, na penumbra da espera e até do medo (do escuro), isso me bastará.

Um comentário sobre “Coisas que não são vírus

  1. “Fingirei frustração mas ainda terei o cheiro”. Tata, essa frase grudou na minha mente porque ela consegue expressar com perfeição certo tipo de sentimento que não se costumamos por em palavras mas que fica lá sem nome num canto da mente. O texto todo é um primor. Parabéns! Você escreve lindamente!

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