“Estas alegrias violentas têm fins violentos”
William Shakespeare
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De uns dias para cá, o mundo passou a ter um cheiro estranho de desinfetante com cloro. Percebi isso quando abri a janela para deixar o ar entrar durante o meu 7º dia de quarentena. Uma semana inteira; a mesma quantidade de pecados e maravilhas que existem.
É uma situação estranha essa que estamos vivendo. Ninguém estava preparado, embora em documentários sobre doenças virais, os quais passei a assistir (sim), muitos epidemiologistas insistam em dizer que sobre influenzas acometendo a humanidade, a questão não é se, mas quando. Uma hora ou outra isso ia acontecer.
O que não era para acontecer são essas ações de pessoas (?) que parecem ter outras preocupações numéricas em relação ao isolamento social. Nome engraçado escolhido para dizer ao brasileiro: você não pode abraçar; você não pode tomar café na casa do seu vizinho; você não pode ir ao supermercado para comprar uma banana. Maldade.
Ainda mais para os idosos – pelo menos alguns deles – que já foram privados de muitas coisas ao longo da vida a título de maturidade. Ao verem as ruas vazias, pensam que estão em um parque de diversão sem um adulto responsável por perto.
As autoridades já estão cientes de que existe uma corrente de whatsapp convocando todos eles a irem para a fila da lotérica em horário de pico só pelos “velhos tempos”?
Algumas pessoas – eu – podem não estar vendo as coisas nos termos que são – ou deveriam ser -. Minha mãe me disse que a cidade em que ela vive estava sem sinal de celular há dois dias, eu disse que era o apocalipse e agora ela está me enviando mensagens dizendo que me ama. Acho que fui longe demais.
Outras parecem não se importar nenhum pouco – e agora não digo das que precisam manter sua rotina de trabalho para sobrevivência – digo das que não se importam mesmo.
Talvez a gravata aperte demais o pescoço, e por viverem com falta de ar por tanto tempo, não conseguem saber a diferença entre estar infectado ou não – se acham imunes.
Mas essa pandemia – nome forte – está tirando um pouco de nós, da nossa rotina, da nossa presença no mundo – e eu não sei se isso é de todo ruim.
Essa experiência toda me fez lembrar de um filme, do qual vez ou outra faço propaganda, chamado Perfect Sense. Nele, a sociedade é acometida por uma doença estranha – ninguém sabe de onde veio ou o que quer – que aos poucos vai privando as pessoas dos sentidos físicos.
Primeiro, o olfato, depois paladar, a audição e, por último a visão. O roteiro gira em torno de como as pessoas se adaptam, se esforçam ao extremo, mas ainda assim continuam com a humanidade intacta.
Lembrei-me dessa película pelo mesmo motivo que comecei esse texto. O olfato não consegue mais distinguir cloro de Dior, o paladar está adormecido por fastfood delivery. A audição me foi tomada durante o último pronunciamento em horário nobre, e espero o dia do próximo baile de máscaras para saber se a visão ainda me pertence, e, se sim, por quanto tempo.
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