Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br
O momento que vivemos é único na história. O coronavírus está aí e tirou o mundo do prumo.
As orientações da OMS – Organização Mundial da Saúde, são de isolamento social e higienizações diversas, tanto para o sujeito como todos os ambientes e utensílios domésticos e de uso diário. E vivemos de forma diferente!
Com o isolamento social, respeitado por pessoas que dão valor a própria vida e a do outro, veio a necessidade da fala, da comunicação. Esta expressa de várias formas, desde contatos com vizinhos que se comunicam à distância pelas janelas até lives nas redes sociais.
Todos têm algo a falar e compartilhar. Há emergência!
É bom salientar que existe o profissional da escuta e a fala do paciente é seu instrumento de trabalho. Assim, profissionais da saúde mental são mais requisitados em momentos em que crises afetam as pessoas.
A pandemia do novo coronavírus nos provoca – profissionais da área – a mais estudos de como as estruturas – neurótica – histérica ou obsessiva e psicótica reagem a esse impacto no processo civilizatório. Cada sujeito dará uma resposta que estará de acordo com sua subjetividade. Não existe padrão.
Fato é que algo diferente da dinâmica da clínica já ocorre. Todos os atendimentos de pacientes que puderam, passaram a ser on-line. Meio já regulamentado desde 2018 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Grupos de estudos online sobre o assunto se intensificaram há dez dias.
Diante desse real devastador que nos abateu, também, os psicanalistas têm o dever ético com seus pacientes e a sociedade. Assim, muitos atendimentos passaram a ser realizados por aplicativos.
Eu ainda estava reticente com o atendimento online. Fui pesquisar sobre seus princípios e se estavam de acordo com o presencial. A eficácia e os princípios estão presentes sim, conforme muitas pesquisas. Provavelmente será uma prática mais recorrente a partir daqui, mesmo após essa crise.
Durante uma live na semana passada, o psicanalista Antônio Quinet lembra que Freud estabelece que não há análise sem o analista. E mostra que ele está presente nesse encontro virtual.
Com a falência do neoliberalismo deve-se existir o discurso do psicanalista. Os fundamentos da psicanálise e a ética no dispositivo do divã/poltrona tem dois eixos principais:
– associação livre;
– a análise deve pedir o encontro com o real – a surpresa daquilo que se fala e que nunca foi refletido anteriormente.
Não irei me estender nos conceitos e propostas para uma análise. Com essa crônica tenho a pretensão de alertar que há muito para se falar quando a angústia se abate sobre nós.
Os profissionais da saúde mental estão mobilizados e preparados para escutar. É uma escuta para manter o sujeito desejante, vivo.