Taís Civitarese
Hoje à tarde, vou encontrar minha amiga. Antes do corona chegar. Tomaremos café com bolo e jogaremos conversa fora. Conversa essa que se joga fora e cai dentro. Vamos rir juntas e planejar o futuro.
Hoje à noite, verei minha avó. Semana que vem ela completa 87 anos. Preciso abraçá-la com urgência enquanto ainda está perto de mim. A sombra do adeus a acompanha diariamente.
A bengala, os cabelos cor de neve, seus músculos fraquinhos. Preciso estar com ela, deitar em seu colo. Ouvir sua voz. Levar-lhe um presente.
Amanhã, farei uma festa. Antes do corona chegar. Terá vinho e hambúrguer, muita música e risos. Virão amigas antigas, amigas-irmãs. Trarão fotos, fofocas e algumas dores. Dividiremos tudo, acabaremos mais leves.
Depois, visitarei meus pais. Meu país, minha eterna casa. Como onda que vem e que vai, levarei até eles afeto e quitandas.
Tudo isso antes da quarentena. Antes do inverno engolir o outono e antecipar tremores e arrepios.
Se existisse vacina, eu estaria tranquila. Adiaria a festa, a visita, o café e talvez até o beijo na avó. Retomaria a correria diária na certeza de gozar da saúde…
Mas o perigo conclama a viver sem titubeios. É agora ou talvez nunca. Ou talvez daqui a quarenta dias, três meses, quem sabe?
Abraçar meus filhos, beijar meu marido, viver bem o dia. Fazer tudo o que posso, fazer o melhor. Estar feliz, realizar, declarar amor. Antes do corona chegar.
Aqui é a Elaine Alves, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.