Taís Civitarese
Preciso confessar um pecado aqui na terra do Carnaval: eu não gosto do Carnaval.
Poderia elencar os inúmeros motivos, mas não tenho a intenção de convencer você, leitor e folião, a mudar de ideia. O meu ponto aqui é outro. Gostaria que pudéssemos, nós dois, conviver em paz.
Você com seus confetes. Eu esquentando o meu chá com a serpentina elétrica. Você com suas marchinhas e eu marchando para algum lugar bem longe nesses dias.
Veja, eu respeito a sua festa. Só não quero participar dela. Gosto inclusive de cores, de glitter, de música, de dança e de alegria. Mas talvez, você goste mais que eu, divirta-se mais que eu e escolha esse prazer mais do que eu.
No momento, minha onda é outra. Você não perguntou, mas vou te contar. Tenho gostado de cozinhar.
Então, enquanto você samba, encararei, usando fones, minhas panelas. No brilho do bloco de manteiga derretendo, sentirei os estalos da cebola fritar. Com o ar inebriado de aroma, jogarei uma multidão de temperos. Vale até uma cerveja para incorporar ao molho. Mas com cuidado para não mascarar o sabor. Depois, virá a peça principal e por fim, a decoração para pôr no prato.
Esse será meu enredo. Tudo feito com muita concentração.
Portanto não se acanhe. Aproveite a sua festa que aproveitarei do meu jeito. Nós dois queremos a mesma coisa, apenas seguimos caminhos diferentes. Concorda?
Discordamos em quase tudo, mas não precisamos brigar. Só não me chame para baile algum. Também não te chamarei para morrer de tédio comigo. Sigamos, cada um com seus pecados e virtudes, com paz, com respeito e, depois de quinta, nos falamos.