Sem constrangimento, já confesso que os fatos são reais e aconteceram comigo mesmo.
Já com a idade avançada, consegui sair do país. Me impedia tanto a falta de interesse em conhecer outras terras quanto – e principalmente – o alto custo que imaginava ser uma viagem dessa natureza.
Até as aventuras que vou contar, ainda que pequenas partes do que passei por lá, tinha ido ao Paraguai e Marrocos – nesta segunda, com rápida passagem por Madrid – para ver o meu time jogar.
Pois, lá vou eu para um grande passeio pelo velho continente. Minha filha fazia intercambio em Londres, sendo que isso me motivou a essa longa viagem. Inicialmente, por recomendação e receio dela, resisti em tirar minha vasta barba.
Dizia ela, que ao descer em Londres, iam me mandar de volta suspeitando que eu pudesse ser um terrorista talibã.
Fui sem ao menos aparar minha companheira de vida toda. Lá em Londres, na fila da imigração, quando faltava pouco para ser atendido, gastei todo meu péssimo inglês. “I do not speak English, only portuguese” (eu não falo inglês, somente português). Ufa fui entendido e ao ser entrevistado lá estava a interprete.
O que o senhor veio fazer aqui? Visitar minha filha.
O que ela faz aqui? Intercâmbio!
Onde ela mora? Sei lá, nunca estive aqui e ela está me esperando na saída do desembarque.
Depois de traduzidas as respostas, riram bastante e carimbaram meu passaporte.
De lá, Inglaterra, segui e durante 25 dias percorri a Espanha (Madrid, Ávila – claro -, Segóvia e Barcelona); depois Itália, Roma; França, Paris e após voltar a Londres segui sozinho para Portugal, em Lisboa.
Como minha filha fala bem inglês e espanhol, com exceção da França (se recusam a conversar noutra língua) seguimos bem até voltar à sua base. O pai dela, ao contrário dos avós dela, incentivou a aprender outro idioma.
Mas, vamos as manotas do caipira no outro lado do mundo. Como ela estava em intercâmbio de trabalho, me arrisquei em sair sozinho pelas ruas.
Numa dessas perdidas, entro numa cafeteria e, com alguma dificuldade, conseguem entender que quero café.
Daí perguntou: “large or small?” Levei um tempo até entender se era grande ou pequeno. Dai optei pelo “small” sem saber ao certo qual tamanho seria aquele.
Pois, o cara me serve uma xicarazinha com menos de um dedo de café que mal molhou a minha boca.
Tempos depois, já no México, precisamente em Guadalajara – agora de novo acompanhando meu time – me ocorre à mesma situação.
Só que o portunhol eu domino, então tirei de letra. “Grande ou pequeño?” Fácil e incontinenti respondi: grande! Lá vou eu tomar aquela miséria de café igual em Londres? Nunca!
E a moça me serve um copão de um litro de café (chafé) frio, aguado e de gosto horroroso.
Tomei todinho, já havia pagado, depois amarguei uma desconfortável dor de cabeça pelo resto do dia. E o time ainda perdeu para um tal de Atlas. Pode?
De volta à viagem anterior, já em solo português, aonde me virei relativamente bem. Só pedia, insistentemente, para que tentassem falar mais devagar para minha compreensão.
Pois bem, muitos me recomendaram não deixar de comer o famoso pastel de Belém. Para lá eu fui, com direito a andar de um aprazível bonde elétrico.
Admirando a beleza do Rio Tejo à esquerda, a Ponte 25 de abril, seguia eu em direção ao pastel – ainda desconhecido – mais delicioso de todo o planeta.
Cuidadosamente, pedi dois para não ter surpresas e um refrigerante. A moça foi buscar e emendei, “por favor, uma pimentinha”.
Ela me olhou surpresa e trouxe tudo, inclusive meu pedido final. Quando olho para o produto, o tal pastel de Belém, um dos maiores símbolos português, é uma tortinha doce feita à base de nata.
Devolvi a pimenta, não sem que a portuguesa se esbaldasse em dar risadas da minha reação.
Tiveram muitas outras situações, diferentes, claro, que um dia posso relatar com calma neste território diário que divido com pessoas tão especiais.
A propósito, sexta-feira o Mirante completou 200 postagens e ontem chegamos à centésima desde que passou a ser diário e contar com essa turma especial de parceiras e parceiro, sendo um post semanal de cada um de nós.
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Foi muito divertido ler suas aventuras em terras estranhas.
Deveria ter provado o pastel de Belém com Pimenta, vai que fica bom (kkk).
Por favor continue viajando e me fazendo rir.
O bom de se aventurar por terras estrangeiras é o caminho de volta para casa, pelo simples fato e certeza q sempre ter-se-á ótimas histórias para contar. Gostei!