Na sexta-feira, lendo o delicioso texto da Taís, fui ao embalo e na saudade dos meus 40 anos. Muita coisa boa aconteceu naquela década, sobretudo em conseguir dar novos rumos à minha vida.
Confesso que aproveitei muito, desde minha infância, passando pela prolongada adolescência, só “tomando jeito” – conforme imploravam papai e mamãe, a partir ou depois da tal “crise dos 40”. Dai agora cheguei ao que chamo de “sobressaltos pós 60”.
Antes, preciso contar mais uma que meu pai dizia enquanto tive sua presença. Papai nos deixou quando eu ainda estava com 19 anos, sendo necessário me emancipar para os tramites legais da família, uma vez que eu era o caçula e temporão.
Já contei aqui que ele me alertava para não atirar plásticos fora, em função do longo tempo de decomposição, e ainda que no futuro, ele disse isso nos anos 60/70, íamos falar no telefone “enxergando” a outra pessoa.
Pois bem, ele ainda na faixa dos 50 anos (morreu com 64 e já tenho 62), insistia que o tempo – a cada novo ano – passava mais rápido que no anterior.
Eu, como nos outros casos, não dava muita confiança aos devaneios de um “caduco precoce”. Assim ele me parecia, com essas manifestações. Bobo fui eu que não ouvi atentamente tudo aquilo.
Tudo, a bem da verdade, tem seu momento. Hoje percebo os dias, semanas, meses e até os anos passando numa velocidade galopante, tal qual papai me avisou.
Fosse apenas isso, aquela piadinha “sem graça”, que com os anos a gente passa a viver a fase do “condor”.
Dor nas costas, nos braços, nas pernas (neste caso, quase me matando para subir até o terceiro andar num prédio sem elevador). Médicos e medicamentos diários, em alguns momentos, até errando dosagem e quantidade dos comprimidos.
Como se não bastasse, a dura realidade de perder amigos. Papai, como disse, foi quando eu estava com 19 anos. Mamãe, já tinha eu passado dos 40, com tempo dela assistir o seu grande sonho comigo sendo realizado.
Curioso? Tive problema com alcoolismo, tendo abdicado do uso (era só cerveja, mas muita) exato um ano antes dela reencontrar papai. Meu irmão, fazem cinco anos, cunhados, já foram três, todos igualmente doídos. Tios, primos e amigos diletos.
Entre esses últimos, me recordo. Joãozinho, Rômulo (ambos araxaenses) e Celso (de Belo Horizonte), que quase me tiraram a alegria de colecionar amigos.
Próximo à mamãe, meu inseparável companheiro de resenhas de futebol e política, Roberto Drummond. Resisti a tudo isso, até que nos tempos recentes, novamente, essa dor da partida quase me leva ao nocaute.
Ano passado, no exato dia 3 de maio, uma das pessoas mais queridas e diletas que a vida me presenteou. Ronaldo Lenoir, com quem convivi intensamente nos últimos tempos, e foi determinante ao desafio de me fazer blogueiro aqui no UAI.
Primeiro o do Galo, posteriormente esse Mirante, dois projetos que divido hoje com parceiras e parceiros especiais.
Até que no último sábado, ao acordar – exatamente como soube do Lenoir, via rede social – deparo com a partida do Son Salvador.
Não éramos íntimos, mas asseguro que tínhamos muita afinidade. Não só pelo nosso time do coração, que era sempre o motivo do início das nossas prosas, mas – sobretudo, pelo jeito leve dele de ser.
Alegre, irreverente e bem humorado, fazia que nas minhas idas à redação do UAI/EM, sua mesa fosse “parada obrigatória”.
A resenha podia ser de 5, 10 ou muito mais minutos, saia de lá rindo e refletindo sobre as brincadeiras do eterno Son.
Vá em paz! A emocionante despedida do Salvador foi outro, entre tantos que estou vivendo, momentos de reencontrar muitos e bons amigos e companheiros dos tempos do bom jornalismo.
Enquanto isso, seguimos daqui até o dia que Deus quiser, sobressaltados com tantas perdas e partidas de gente tão querida.
*fotos: UAI/EM
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