Tais Civitarese
Sempre ouvi falar sobre a “crise dos 40 anos”, e confesso: o assunto me trazia uma certa preguiça.
De crise, eu entendo, pois tive algumas delas no percurso de cada ano completado até hoje. Por que os 40 seriam diferentes, especiais?
Recentemente, conversando com uma amiga, descobri uma coisa. A proximidade dos 40 anos não promove exatamente uma crise. Mas, sim, uma profunda transformação. Às vezes, maravilhosa.
Se anteriormente, na vida de adultos-jovens, éramos um reflexo das projeções paternas e de nossos primeiros sonhos, nessa idade, ocorre algo diferente. Um certo lufão de coragem.
Uma torrente de desbravamento. Acontece uma espécie de “fase 3” da nossa vida. Até a personalidade muda um pouco.
Se antes sentia medo do que iriam pensar de mim, agora, sinceramente, estou rasgando. Se titubeava antes de pintar os cabelos de loiro, agora peço ao salão aquela dose dupla de água oxigenada.
Se queria usar verde com pink sem parecer escola de samba, agora ainda ponho glitter por cima e, se tiver no armário, também algumas plumas.
Porque a experiência anterior de “meia vida”, meio que já nos ensinou um pequeno esboço do caminho. Meio que já tropeçamos, já engolimos caroço.
A cara, quebrada tantas vezes, já aprendeu onde é melhor para fazer a lanternagem. Dentro de nós mesmos? Sim. Na intuição? Também. Nos valores, aqueles antigos, de família? Exatamente. E por aí, vai…
Se vivemos atentos até aqui, chegamos a essa idade com certa bagagem. E esses pequenos truques na mala realmente tornam o cotidiano mais fácil. Não temos mais aquele pique de antes, é verdade.
Mas sinceramente, compensa. Engrenagens azeitadas, uma lição ou outra aprendida, aquele defeito conhecido e uma qualidade aceita, vamos tocando o barco.
Sim, 40 é diferente de 20 e de 30. É econômico não ter que cursar mais o ciclo básico da vida. Nessa idade, é hora das optativas!
Ainda não cheguei lá, mas já sinto os ventos dessa aventura nem tão inconsequente e nem tão limitada. Se a virtude está no meio (da vida?), é para lá que estou indo animada!
Belo texto, muito bem escrito, sensível e otimista.
Texto delicioso de ler! Com humor e leveza, o medo dos 40 é quase exorcizado. Parabéns!