Dias atrás, numa prosa com pessoa amiga, eu admitia que andava muito descrente dos rumos do país e do mundo. O radicalismo de tempos recentes, notadamente na política – nem admito que seja de caráter ideológico, uma vez que dos lados antagônicos ouve-se cada barbaridade -, que contagiou e expondo um lado agressivo que as pessoas carregam dentro de seu interior.
Parecendo com torcedor de arquibancada de time de futebol, lugar que também acabou se contaminando com esse tipo de reação, afastando gente que durante anos mantinha boa convivência.
Hoje em dia, ao que percebemos, quem votou num determinado candidato, vê e reage ao eleitor do adversário como inimigo. Assim, como no caso de nós, mineiros, o Torcedor de um dos dois times mineiros quer o pior não para o time rival, mas para aqueles que optam por torcer pela equipe adversária.
Nos meus tempos de criança, vi o PSD da família da minha mãe comemorar vitória sobre a UDN do clã do meu pai. E, pude ainda presenciar na eleição seguinte a família do papai comemorar a reação na urnas. Tive um cunhado e um irmão, coincidentemente ambos de nome Fausto (já falecidos), em que o primeiro me conduziu a ser Atleticano, para desconforto do segundo, que não me seduziu às cores do seu time. Convivemos bem, durante décadas, numa curtição sadia quando um time superava ao outro.
Nos dias de hoje dá até medo de comemorar a vitória do seu candidato e o título do seu time. A radicalização tomou conta e, em determinados casos, expondo o eleitor e o torcedor ao ódio e a ira do seu adversário. O tapetão é o refugio dos derrotados. Se um candidato vence um pleito, o adversário entra com ação – sistematicamente – em busca de reverter o resultado pela via judicial.
O mesmo no campo de jogo, durante a partida – nos dias de hoje – já não se comemora o gol no ato. Tem de esperar o VAR (essa invenção que, a meu juízo, trouxe mais problema que solução, tantas são as decisões equivocadas já apuradas). Ao final de uma partida ou torneio, medidas jurídicas são utilizadas pelo derrotado. E o Judiciário, pelo seu histórico recente, mais suspeito que em toda nossa vida republicana.
Fato é que um acontecimento traz diversas interpretações, nenhuma delas imune à imparcialidade. Na resenha que me referia acima, usei os links que vou repassar ao caro leitor para a apreciação. O mesmo fato narrado por dois sites contraditórios. O “Brasil 247”, ligado à esquerda; em contraponto ao “O Antagonista”, a serviço da direita.
As narrativas, totalmente contrárias uma da outra, deixam escancaradas que não servem para nossa leitura. O leitor quer e gostaria de ter a informação descaracterizada de interesses de grupos políticos que lutam apenas por ter o poder pelos seus interesses menores.
Não quero e tampouco vou entrar no mérito das informações, mas – convenhamos – fica difícil de acompanhar a vida nacional com esse tipo de informação. Em quem acreditar?
Em meio a essa parafernália, para nosso refresco e buscar melhor humor, repasso uma historinha de manipulação vinda lá da minha Araxá. E inocente, coisa dos anos 30. O filme “Dama das Camélias”, que tem a heroína morrendo ao final, na minha cidade, ela escapou. Uma jovem, cobiçada pelos homens da época, disse ao projecionista do Cinema que ficaria feliz se a estrela daquele filme sobrevivesse ao final.
Ele, incontinenti, com uma tesoura na mão, editou o final e realizou o desejo da linda loira da terra de Dona Beja. As cenas finais foram as mesmas do meio do filme, onde a personagem interpretada por Greta Garbo aparecia aos beijos com o outro protagonista, que era desempenhado por Robert Taylor.
Ao final da apresentação, as autoridades se reuniram, desde prefeito, promotor, juiz de Direito, vigário da paróquia e outros próceres da sociedade araxaense daqueles tempos. Um deles se dirigiu ao operador da máquina de projeção, dizendo que assistira o mesmo filme na semana anterior – na vizinha Uberaba – e que a personagem morria tuberculosa. “E aqui não?”, interpelou. “Uai, doutor, todo mundo sabe que o clima de Araxá é muito melhor que o de Uberaba”.
[…] “Em quem acreditar?”[…]
Você não precisa q outros acreditem,basta vc acreditar! Jigoro Kano já dizia: “A dualidade é a condição da vida. Sem oposto nem contrastes, a vida não é vida.”
Vivas à vida!