Os riscos invisíveis do trabalho

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Daniela Piroli Cabral
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Uma trabalhadora faz o seguinte relato enquanto discorre sobre seu sofrimento no trabalho. “Lá temos ótimas instalações. De um tempo pra cá todos tem o seu próprio computador e seu próprio ramal. Agora, ninguém fica à toa, esperando vagar mesa ou computador pra fazer o seu trabalho porque todos estão acomodados nas suas ilhas, há uma estação de trabalho para cada um”.

Apresento este exemplo para ilustrar os adoecimentos relacionados ao trabalho nos quais, aparentemente, o trabalhador “não tem do que se queixar”. Mas será que boas condições de trabalho, com higiene, ergonomia e segurança podem assegurar saúde no trabalho?

As condições de trabalho compreendem o elementos estruturais do ambiente físico, os instrumentos e equipamentos, a matérias-prima, o suporte organizacional, as práticas de remuneração e benefícios.

No entanto, no caso acima, a trabalhadora evidencia as ótimas condições de trabalho em seu ambiente como desencadeadoras de um péssimo clima interpessoal no ambiente de trabalho após o novo layout.

As pessoas não precisavam mais conversar ou interagir para resolverem os problemas que surgiam na execução do real do trabalho, pois tinham todos os recursos à disposição (telefone, computador).

As pessoas não precisavam mais se olhar durante o expediente. Na verdade, nem conseguiam fazer isso pois ficavam “escondidas” em suas baias, a maior visibilidade possível era a da sobrancelha e da testa do colega.

O nível de comunicação e de apoio social no trabalho diminuiu significativamente. Aumentaram o individualismo, o silêncio e o isolamento. Diminuiu a empatia e  a cooperação entre os colegas, pois estavam todos, literalmente, ilhados.

Pensar atualmente nas relações que se estabelecem entre saúde e trabalho é mais do que pensar nos fatores objetivos do trabalho (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos). O grande desafio, mais do que controlar os fatores objetivos, é gerir os fatores subjetivos do trabalho, os chamados fatores psicossociais, que são riscos “invisíveis”, já que não são facilmente detectáveis ou identificáveis de pronto, tendo ação incidiosa. Eles abrangem a comunicação, os relacionamentos, os níveis de confiança entre os pares e entre os pares e suas lideranças, a reciprocidade, o reconhecimento, a satisfação e o sentido do trabalho, nas dimensões individuais e coletivas.

No Brasil, diferentemente de países da comunidade européia, as normas regulamentadoras no Ministério do Trabalho e Emprego não priorizam os riscos psicossociais, apenas os abordam de forma indireta na Norma Regulamentadora n. 17 (SERAFIM et al, 2012).

Obviamente, não estou dizendo que boas condições de trabalho não são necessárias. Creio que, de maneira geral, avançamos muito em relação às questões objetivas de promoção de saúde e segurança nos ambientes laborais. Entretanto, frente ao cenário atual de terceirização irrestrita e de anunciado fim do Ministério do Trabalho, há grande chance de retrocesso neste contexto. Minha provocação é um convite à reflexão sobre o nosso próprio fazer como trabalhadores e sobre a precariedade simbólica e subjetiva a que estamos expostos sem perceber em nosso cotidiano de trabalho.

 

Fontes:

  • SERAFIM, A.C.; CAMPOS, I.C.M.; CRUZ, R.M.; RABUSKE, M.M.. Riscos psicossociais e incapacidade do servidor público: um estudo de caso. Psicologia: Ciência e Profissão, v 32, n3, 2012.

Um comentário sobre “Os riscos invisíveis do trabalho

  1. Lugar de trabalho não é lugar de festa , conversinha fiada e fofocas . Confraternização SE FAZ NOS INTERVALOS E APÓS O EXPEDIENTE ,
    Se o missivista quer fesrinha no local de trabalho passe em um concurso publico e vá ser mais um inútil funcionário público

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