Se o avanço da medicina tem prolongado a vida média da população, nem sempre o atendimento ambulatorial, no consultório e em exames, segue padrões que dão tranquilidade aos pacientes. Não bastassem os planos de saúde – verdadeiros achaques aos nossos bolsos -, que em determinados casos não cobrem as recomendações e pedidos médicos, ainda temos de nos resignar diante de atendimentos constrangedores.
Isso para quem tem plano de saúde. Imaginemos, então, para a maioria da população, que depende do Sistema Único de Saúde, assegurado pela Constituição de 1988 e implantado por Lei, para atender quase 200 milhões de brasileiros. Entre estes beneficiários, mais de 80% da população só tem acesso à saúde por meio do SUS. E o governo vem, gradativamente, enterrando esta conquista. Tudo isso para beneficiar, ainda mais, os planos privados e pagos.
Recentemente, eu mesmo passei por dois procedimentos cirúrgicos. No primeiro deles, mais delicado, tive de aguardar – pacientemente – os procedimentos que o plano (que é dos melhores oferecidos pela operadora) impõe ao cliente. Cheguei a admitir que se tratasse de medida protelatória. Já o segundo, embora aparentemente mais simples, causou um pós-operatório mais delicado. Enfim, de ambos, estou superado. Digo dos problemas que originaram essa necessidade cirúrgica.
Tive alguma dificuldade apenas nos exames prévios. Foram vários e a cada deles, além de jejum, eram acompanhados de procedimentos prévios bastante enjoativos. Não me descuido de exames anuais, tampouco me ocupo de preconceitos e tabus antigos. Foi assim que descobri, mesmo sem sintomas, os casos que me levaram ao bloco cirúrgico. Exames preventivos. Digo isso, para chegar onde pretendo numa situação vivenciada por pessoa amiga, que estive próximo – na condição de acompanhante – recentemente.
Um amigo foi fazer endoscopia e colonoscopia. Pode parecer estranho fazer os dois juntos, mas – pelo que vi e no meu caso pessoal – é muito melhor assim, uma vez que o procedimento é o mesmo e basta um jejum e uma anestesia. Pois bem, isso foi num Centro de Diagnóstico do Aparelho Digestivo, no bairro Santa Efigênia.
Depois dos trâmites legais – bastante lentos com atendente em treinamento –, preenchido e assinado todo o papelório, lá estava ele, apenas com um roupão, deitado na cama, aos cuidados de duas mocinhas. Uma delas, demonstrando mais experiência, porém, enfrentava um problema: acabara de descobrir que sua carteira do plano de saúde havia sido trocada em um laboratório onde tinha ido fazer exames para descobrir se estava grávida.
Virou um drama. Ela precisava marcar a consulta com a sua médica. Com o paciente sendo preparado, ela não teve dúvida: resolveu o seu problema ligando para o laboratório, conversando com um e com outro, enquanto, com uma das mãos, dava agulhadas no punho do agora já solitário cidadão, portador de plano de saúde, lá deitado para pegar sua veia.
Claro que não conseguiu. Passou então para o antebraço, deixando o local da primeira tentativa inchado, conforme notado ao final do exame. No novo local, onde finalmente conseguiu injetar o remédio, foram mais duas agulhadas até atingir o objetivo.
O paciente, indefeso, fica ali estendido numa maca de exame. Fragilizado, indefeso, inseguro, aguardando momentos de verdadeiro horror. Ao final, amparado pelos braços do acompanhante, volta para casa ainda fora de combate, sem entender ao certo o que se passou e sob efeito da anestesia. Só no dia seguinte, com hematomas no braço, que vai entender e se dar conta da fragilidade que esteve exposto nas mãos de quem divide a atenção entre o seu trabalho e questões pessoais que interferem no atendimento dado durante o exame.
E a vida continua, apesar de o plano de saúde ser bastante salgado – especialmente – aos clientes idosos.