Universo de The Boys ganha reforço com Diabolical

Para quem está na expectativa da estreia da terceira temporada de The Boys, em junho, uma opção é conferir a antologia derivada The Boys Presents: Diabolical. A atração expande o universo da série contando novas histórias sobre aqueles personagens e introduzindo outros. Em meio à sangueira, aproveita para tocar em assuntos delicados, como a solidão, a velhice, as redes sociais e as relações humanas.

Os oito curtos episódios de Diabolical, em torno de 13 minutos, estão disponíveis no Amazon Prime e mudam radicalmente de tom. Mas isso não significa que peguem leve na violência. Afinal, é um spin off de The Boys, não poderíamos esperar menos. O fato de se tratar de uma animação elimina restrições orçamentárias e permite aos envolvidos irem à loucura. Os criadores da revista em quadrinhos, Garth Ennis e Darick Robertson, estão envolvidos em tudo, assim como o produtor e criador da série mãe, Eric Kripke.

Interessante notar que, entre os dubladores, são mantidos alguns dos originais, como Anthony Starr, Elizabeth Shue e Giancarlo Esposito. E boa parte é alterada. Temos, por exemplo, Jason Isaacs como Butcher, ao invés de Karl Urban. E Hughie é dublado por Simon Pegg, que inspirou o personagem nos quadrinhos (e vive o pai dele na série). Entre os roteiristas, não faltam nomes famosos, como Awkwafina, Andy Samberg e os também produtores Evan Goldberg e Seth Rogen.

Para quem não conhece, a série original nos apresenta a um mundo onde seres superpoderosos usam fantasias para salvar as pessoas, mas, nos bastidores, são crápulas preocupados com a própria imagem e com o próprio bolso. Uma corporação bilionária, a Vought, banca um supergrupo chamado Os Sete e é um grande prestígio fazer parte. Só que quem entra fica imediatamente refém da diretoria e passar a servir a eles.

Billy “Açougueiro” Butcher é alguém que tem algo contra o principal herói, e o pior deles: o Capitão Pátria (ou Homelander). Por isso, reúne um grupo informal e talentoso para tentar derrubar todos eles. A série principal foca nesse antagonismo e desenvolve os dois lados. Diabolical, mantendo a mesma lógica, tem liberdade para mostrar aspectos que normalmente não vemos.

Algo importante a ser mencionado (que pode ser um spoiler para quem não assistiu a The Boys) é que a Vought desenvolveu um composto para criar esses heróis. Com ele, qualquer um pode se tornar superpoderoso. E isso é mote para metade dos oito episódios, que mostram pessoas comuns em situações extraordinárias. Como seria passar a ter poderes? A pessoa se tornaria mais popular? Tiraria vantagens disso? Poderia ajudar outros? Essas são algumas das questões levantadas.

Se a parte filosófica existe, há também equilíbrio. A série traz ação, humor, tiros, explosões e suspense. Para os fãs de The Boys, é uma experiência interessante que traz mais elementos para enriquecer o universo já conhecido. Para os novatos, é um passatempo divertido que certamente vai instigá-los a procurar as duas temporadas disponíveis do live action.

Será que todo superpoder é bom e bem-vindo?

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Cavaleiro da Lua traz Oscar Isaac para o Universo Marvel

Depois de quase quinze anos de Universo Cinematográfico Marvel, com os personagens mais famosos devidamente apresentados (e os menos também), sobrou para aqueles que só os fãs hardcore conhecem. Esse é o caso do Cavaleiro da Lua (Moon Knight), que ganhou uma série curtinha no Disney+. O sexto episódio chega esta semana e encerra a jornada. O diretor, o árabe Mohamed Diab, garante um retrato fidedigno do Egito.

Variando um pouco do que se conhece dos quadrinhos, a série é a primeira a contar uma origem na TV. Ao menos em termos: Marc Spector já é o vigilante Cavaleiro da Lua, enquanto Steve Grant passa a ser ele. Ou seja, é origem apenas para um deles, que acompanhamos para descobrirmos o que está acontecendo. O mais estranho é que Marc e Steven são a mesma pessoa.

Enquanto Marc parece uma versão de James Bond com superpoderes, Steven é um pacato atendente na lojinha de brindes de um museu. O problema é que os dois descobrem ocupar o mesmo corpo, e descobrem também serem doentes mentais. A divisão entre as personalidades é tão absurda que um fala com sotaque americano e o outro, britânico. O que torna o trabalho de Oscar Isaac fascinante, uma escolha acertada para o papel.

Protagonista de grandes blockbusters, como a franquia Star Wars e Duna, e longas independentes, como The Card Counter (2021), Isaac é uma ótima adição ao MCU. E, com um (anti) herói desse nível, o vilão não poderia ficar atrás. Para combater o avatar do deus da Lua, foi convocado Ethan Hawke (de Juliet, Nua e Crua,  2018), que vive uma espécie de fanático religioso que serve a outra deusa. Ou seja: uma mistura mitológica que pode dar um nó na cabeça dos incautos.

O principal porém de Cavaleiro da Lua é exatamente ter grandes atores nos papéis principais. Como é costume da Marvel, o personagem dificilmente coloca a máscara para atuar como o herói que todos esperam. Na maior parte do tempo, temos o rosto de Isaac, e Hawke não usa nenhuma fantasia, apenas uma bengala (e, aparentemente, uma dentadura).

E um porém coadjuvante é a “viagem” (no mau sentindo) a respeito de deuses egípcios e seus representantes humanos, seus poderes, obrigações e tarefas. E sem os efeitos especiais necessários, que parecem ter sido guardados para o final. Gastaram o orçamento com o elenco e pouparam com o resto. Inclusive, houve uma participação especial do astro francês Gaspard Ulliel, falecido tragicamente num acidente de ski. May Calamawy, nascida no Bahrein, proporciona diversidade e uma dose de realidade, além de ser boa de serviço. E temos o veterano F. Murray Abraham (de Vozes e Vultos, 2021) provendo seu vozeirão ao deus Konshu.

Depois de WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki, as expectativas para mais uma série Marvel eram altas. Se o elenco atingiu com honras, o roteiro deixou a desejar, num ritmo lento e um nível de fantasia modorrento. Torçamos para Isaac seja melhor utilizado em um filme de grupo, ou que tenha uma aventura solo à altura de sua competência. Seja no Cinema, seja na TV.

As três versões do Cavaleiro da Lua na série

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Uncharted é videogame que funciona no Cinema

É difícil entender porque estúdios insistem em adaptar jogos de videogame para o Cinema. A maioria fracassa nas bilheterias e quase todos são pura e simplesmente ruins. Entre as raras exceções está Uncharted: Fora do Mapa (2022), diversão simpática advinda do Playstation que já arrecadou quase três vezes o seu orçamento.

Na onda do também recente Alerta Vermelho (Red Notice, 2021), temos uma fórmula que envolve estrelas de Hollywood e um tesouro há muito escondido, disputado por pilantras de bom coração. Dessa vez, a dupla principal é vivida pelo “Homem-Aranha” Tom Holland e o eterno “Marky Mark” Wahlberg (de Todo o Dinheiro do Mundo, 2017). Duas gerações que se dão bem em cena e trazem um humor muito bem-vindo.

Inspirados pelo suposto ouro que o navegador Fernão de Magalhães teria escondido e nunca retirado, eles começam a buscar pistas e logo viajam pelo mundo. Outro que busca a fortuna perdida é o milionário Santiago Moncada (Antonio Banderas, de A Lavanderia, 2019), mais pelo orgulho de ser o destaque da família que pelos valores propriamente. E há duas mercenárias envolvidas, cada uma com seus interesses (vividas por Sophia Ali e Tati Gabrielle).

Como os filmes e séries da Marvel fazem questão de mostrar seus heróis mais sem máscara que mascarados, fica difícil desvincular Holland do Teioso. Mesmo assim, o ator faz um bom trabalho, e não deixa de tirar a camisa para mostrar seus gominhos abdominais duramente conquistados. Wahlberg também não faz feio, demonstrando facilidade para interpretar alguém sem escrúpulos.

Banderas, reproduzindo o estereótipo do espanhol que fala inglês com sotaque carregado, faz o papel com os pés nas costas. Ali e Gabrielle parecem em ascensão e logo vão ter mais destaque. Locações maravilhosas não faltam, o trabalho do diretor de fotografia é explorá-las, e o faz bem.

A boa bilheteria de Uncharted já deve garantir mais trabalho para o diretor Ruben Fleischer, lembrado pelos dois Zumbilândia (2009 e 2019) e o primeiro Venom (2018). Seja com a continuação prontamente confirmada pela Sony Pictures, seja com outros projetos, já que essa atenção recebida dá frutos. E o final do longa deixa várias possibilidades para a sequência.

Antonio Banderas se diverte como o vilão Moncada

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Yellowstone é destaque na TV

Um dos fenômenos atuais da TV, a série Yellowstone já tem sua quinta temporada confirmada, a ser lançada em duas partes de sete episódios cada. Com Kevin Costner à frente do elenco, a atração da Paramount é destaque de audiência e deu origem a derivados. O primeiro episódio é um filme perfeitamente fechado. Com 1h30 de duração, não faltam intrigas, política, tiros, sexo e comoção, preparando bem o terreno para o que vem pela frente. Os episódios seguintes, em torno de 45 minutos, não ficam atrás, com histórias enxutas que nos levam logo ao próximo, o que praticamente obriga o público a maratonar a série.

A obra nos apresenta à família Dutton, donos de uma boa parte da cidade de Montana, o famoso rancho Yellowstone. Lá, vivem John, o viúvo patriarca vivido por Costner, alguns de seus filhos e diversos empregados. Num primeiro momento, moram com o pai o filho mais velho, Lee (Dave Annable, de This Is Us), e Jamie (Wes Bentley, de Missão: Impossível – Efeito Fallout, 2018), o segundo mais velho, advogado da família. Além desses, conhecemos Bethany (Kelly Reilly, de Sherlock Holmes, 2011), uma bela executiva que toma e reorganiza empresas como quem troca de roupa, e Kayce (Luke Grimes, de Sete Homens e Um Destino, 2016), um ex-militar que se casou com uma indígena e deixou a família para trás.

A disputa com a reserva indígena é um dos pontos recorrentes na trama de Yellowstone. Temos um retrato bem realista do papel ao qual os indígenas norte-americanos são relegados. Eles são deixados à margem da sociedade, em comunidades limitadas, e volta e meia são roubados por “cidadãos de bem”, sempre de olho nas terras deles. É o caso de John Dutton, que apesar de ser o protagonista, tem uma moral nada duvidosa: ele faz o que convém para ele e os Dutton, geralmente acima da lei – que ele representa, já que é o xerife da cidade.

Quem conhece a carreira de Taylor Sheridan como roteirista já sabe um pouco do que esperar. Depois de desistir de ser ator, ele passou a escrever e logo emplacou Sicário: Terra de Ninguém (2015) e A Qualquer Custo (Hell or High Water, 2016), dois roteiros premiados que lhe deram moral para dirigir Terra Selvagem (Wind River, 2017).  Com vários projetos em andamento, Sheridan ainda arrumou um tempinho para criar uma série e fechar com o serviço de streaming da Paramount uma parceria lucrativa. Além de creditado como criador, ele escreveu e dirigiu vários episódios.

Kevin Costner, vencedor de dois Oscars por Dança com Lobos (Dance With Wolves, 1990), é um nome mais do que conhecido e apropriado para liderar e conduzir os Dutton. Além dele, o elenco principal não deixa a desejar. Entre vários bons nomes, Kelly Reilly merece uma menção honrosa. Sua Beth consegue ir de garotinha traumatizada a mulher fatal em segundos, e arrebenta em ambas as funções. E a necessidade de Jamie de aprovação pelo pai chega a dar dó, num ótimo trabalho de Bentley. Entre os muitos coadjuvantes, os destaques são Cole Hauser (de Transcendence, 2014), como o capataz fiel de John, e Danny Huston (de A Noite do Jogo, 2018), o antagonista que busca derrubar os Dutton.

A primeira série derivada de Yellowstone, 1883, já está em exibição, e há outras duas em produção. Isso, além das próximas temporadas, já ansiosamente aguardadas. Não à toa, é um dos carros-chefes da Paramount, que disponibiliza suas produções através da Amazon Prime. Não é difícil associar os Dutton aos Corleone, com suas dinâmicas familiares, e a série ganha força na forma como brinca com essas referências. Sheridan não tenta reinventar a roda, mas sabe muito bem como quebrar expectativas e entregar algo muito superior, inesperado. Por isso, terá sempre o público a seu lado, torcendo por seus próximos projetos.

John tenta corrigir seus erros como pai com o neto

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Morte no Nilo leva Poirot a outra investigação

Com o sucesso de Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 2017), era de se esperar que Hercule Poirot voltaria aos cinemas. A mais famosa criação de Agatha Christie agora é protagonista de Morte no Nilo (Death on the Nile, 2022), outro livro famoso da escritora, já adaptado anteriormente (em 1978). Mais uma vez, temos Kenneth Branagh na direção e no papel do detetive. E não poderia faltar um elenco cheio de estrelas – e de atores “cancelados”.

Assim como causou certo constrangimento a presença de Johnny Depp em Expresso Oriente, já que o ator havia sido denunciado por violência contra a então esposa, dessa vez temos Armie Hammer, Letitia Wright e Gal Gadot, cada um com sua dose de complicações. Somando-se nesse caldo os atrasos na exibição causados pela pandemia, o longa custou a chegar ao público. E não fez feio, superando bem seu custo. A bilheteria arrecadada já garantiu a produção de uma terceira aventura. O livro escolhido é dos menos conhecidos, segundo o presidente dos estúdios 20th Century.

Morte no Nilo nos mostra Poirot em férias no Egito, em meio às pirâmides. Ele encontra o amigo Bouc (novamente vivido por Tom Bateman), que o apresenta aos recém-casados Simon (Hammer) e Linnet (Gadot). Por ser perseguido pela ex de Simon, Jackie (Emma Mackey, de Sex Education), o casal decide seguir com a lua de mel em um luxuoso navio pelas águas no Nilo. Poirot segue com os demais convidados e, como podemos esperar, um assassinato será cometido. O detetive mais famoso do mundo terá, então, que desvendar o crime.

Além dos já citados, o elenco inclui Annette Bening, Jennifer Saunders, Dawn French, Sophie Okonedo, Rose Leslie, Russell Brand e Ali Fazal, nomes bem conhecidos que dão vida ao roteiro de Michael Green (de Expresso Oriente). Fama não necessariamente se traduz em competência, temos gente boa atuando com algumas figuras pouco expressivas. Um exemplo é Gadot, vendida na trama como maravilhosa e cobiçada. A atriz não consegue empolgar e nesse ponto o filme perde um tanto de sua força. Era necessária uma presença mais magnética, que nos levasse a crer que tudo aquilo aconteceu por causa dela. Uma Charlize Theron, quem sabe…

A recriação do Egito na Inglaterra não ficou das mais críveis, deixando a falsidade bem clara em certos momentos. E, falando em falsidade, o ferimento no rosto e a relação com o bigode são terríveis. Poirot está mais frio do que nunca, chegando a ser verbalmente atacado por outros personagens, o que mostra um detetive um pouco raso. O roteiro até se propõe a dar uma explicação para isso, mas também não convence. Ainda que Branagh tenha o mesmo esmero do longa anterior, Morte no Nilo não causa a mesma reação. É um bom filme morno.

Gal Gadot não segura o filme e é ponto fraco

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Eight Days a Week traz outro retrato dos Beatles

Em 2016, bem antes de Peter Jackson lançar seu longo Get Back (2021), o diretor Ron Howard se debruçou sobre a história dos quatro rapazes de Liverpool e lançou Eight Days a Week: The Touring Years (2016), documentário que acompanha os Beatles da explosão em 1962, quando começaram a viajar o mundo, até o show de San Francisco, 1966, quando decidiram focar nos estúdios e levar as músicas mais longe. Essa decisão é facilmente compreensível ao final da sessão, como podemos ver também todo o caminho que eles percorreram.

Dar título para obras sobre os Beatles é sempre muito fácil: basta escolher a música mais relevante para o projeto. No caso desse documentário, Eight Days a Week, do disco For Sale, entra bem no meio da produção musical da banda e exemplifica um dos pontos principais enfocados: como as músicas se tornaram cada vez mais autobiográficas. Os quatro estavam cansados, trabalhando sem parar, se dividindo entre shows, viagens, sessões de fotos, gravações e apresentações na televisão. Pareciam estar trabalhando oito dias na semana.

No início da beatlemania, a dúvida era até quando aquela moda duraria. Ninguém, nem mesmo os quatro, tinha a menor ideia de que eles seguiriam juntos por muito tempo. A cumplicidade entre eles era enorme, mas sabiam que muitos cresceram antes deles, estagnaram e caíram. Por isso, não era questão de amizade ou familiaridade, eles tinham a cabeça no lugar e não se permitiam deslumbramentos. Ao contrário do que previam, a coisa foi crescendo ao ponto de eles não se ouvirem mais tocando em estádios enormes, para mais de 50 mil pessoas. A maioria delas gritando loucamente.

Se Get Back foca num período bem delimitado, numa longa sessão de gravação em 1969, Eight Days abrange mais tempo para tentar explicar o que foi o fenômeno Beatles. Mesmo para quem não gosta das músicas, serve como uma visão da época, e não se furta a mostrar o que acontecia no mundo naquele momento. E os Beatles deram uma grande contribuição, por exemplo, ao movimento dos Direitos Humanos, ao se recusarem a tocar em estádios segregados. “Tocamos para pessoas, e não para essas ou aquelas pessoas”, diz Ringo numa entrevista recente.

No início, os rocks movimentados apelavam facilmente ao público jovem, principalmente à parcela feminina, que sempre tinha um favorito entre os quatro. Com o tempo, as letras se tornaram mais densas, e a instrumentação, mais elaborada. Eles cresceram e passaram a querer coisas diferentes. Contando com vários depoimentos de famosos, como atores, músicos e até historiadores, entendemos o impacto da carreira dos Beatles nas vidas das pessoas. E podemos acompanhar também as mudanças pelas quais os quatro passaram, processo que levaria ao que vemos em Get Back. Um documentário praticamente serve como “primeira parte” para o outro.

Distribuído pelo streaming Hulu, Eight Days a Week é uma oportunidade para ver como o diretor Ron Howard se sai com documentários. Na ficção, sabemos que ele vai bruscamente de zero (Era Uma Vez Um Sonho, 2020) a dez (Apollo 13, 1995), ambos baseados em fatos. Com um Grammy e dois Emmys na bagagem, além de outras indicações a prêmios, o longa se mostrou bem-sucedido junto à crítica, com boas notas em sites agregadores, e tem também avaliações positivas de espectadores. Mais que retratar os Beatles, o filme faz o retrato de uma época.

Howard, o diretor, e os Beatles remanescentes, Ringo e Paul

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Almodóvar critica a guerra em Mães Paralelas

O mais recente trabalho do diretor Pedro Almodóvar invadiu as casas através da Netflix e traz mais uma história com uma mãe como protagonista. Duas, na verdade. A novidade é a carga política de Mães Paralelas (Madres Paralelas, 2021), que volta na Guerra Civil Espanhola para criticar as atrocidades das disputas da época.

Seguindo a linha do longa anterior do espanhol, Dor e Glória (2019), este novo é menos espalhafatoso que outras obras do diretor. Infelizmente, é menos coeso também, já que joga muitas pontas e falha em amarrá-las de maneira satisfatória. Começamos acompanhando a rotina de Janis (Penélope Cruz, de Dor e Glória), uma fotógrafa que tem um trauma: conseguir enterrar o bisavô, morto nos conflitos da guerra civil que, estima-se, levou mais de 500 mil cidadãos.

Ela conhece o coordenador de uma instituição responsável por escavar covas anônimas e dar algum conforto às famílias dos desaparecidos. Arturo (Israel Elejalde) se interessa pela causa – e pela cliente. A partir daí, a trajetória de Janis acaba cruzando com a de Ana (Milena Smit), e as duas mães de primeira viagem terão muitas questões a resolver.

Há pontos da história de Mães Paralelas mal explicados e não explorados que devem deixar dúvidas na cabeça do espectador. O também roteirista Almodóvar parece mais preocupado em criar problemas que resolvê-los, escrevendo bons diálogos que tentam compensar a falta de substância. A fotografia e a montagem, que mais lembram uma novela de Manoel Carlos, criam um desconforto nada interessante. Não à toa, a única indicação ao Oscar que o filme emplacou foi Melhor Atriz, para a sempre ótima Cruz.

O mais interessante fica no enfoque da Guerra Civil Espanhola e na forma como ela causou traumas no país. A Espanha foi dividida entre forças progressistas, de esquerda, e conservadoras, de direita, como o grupo militar de Francisco Franco, ditador que veio a ocupar o governo por mais de trinta anos e causar incontáveis assassinatos. Um desses grupos de direita era a Falange Espanhola, responsável pela execução do bisavô da protagonista.

O mais chocante em Mães Paralelas é o fato de Janis sempre anotar telefones em pedaços de papel, ao invés de mandar o contato ou ditar o número para o outro gravar na agenda do celular. Piadas à parte, é um filme bem atuado, com destaque também para Smit, além de Cruz. E temos, no elenco de apoio, as ótimas Rossy De Palma e Aitana Sánchez-Gijón. É uma obra menor na carreira de Almodóvar, ao contrário do anterior, mais autobiográfico. Mas um Almodóvar menor ainda é melhor que muita coisa que temos por aí.

O diretor apresenta seu elenco principal

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O Oscar e o tapa na cara

Tivemos a 94ª edição dos Academy Awards, mais conhecidos como Oscars, e diversos filmes foram premiados. A Academia parece buscar pulverizar seus prêmios. Com exceção de Duna, que ficou com seis, as demais obras levaram menos estatuetas, permitindo premiar um maior número delas. Assim, todos ficam felizes e acrescentam em seus cartazes os dizeres “vencedor do Oscar”, o que sempre chama mais público.

Se muitos esperavam Ataque dos Cães como vencedor na categoria Melhor Filme, quebraram a cara. CODA – No Ritmo do Coração ficou com o prêmio, além de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (para Troy Kotsur). Esta foi provavelmente a maior surpresa da noite, e Ataque levou Melhor Direção (para Jane Campion, única mulher a ser indicada duas vezes na categoria).

Drive My Car foi sagrado o Melhor Filme Internacional e as categorias de atuação premiaram mais longas. Jessica Chastain foi a Melhor Atriz, e Os Olhos de Tammy Faye ainda ficou com Melhor Maquiagem e Penteado. A Melhor Atriz Coadjuvante foi Ariana DeBose, ganhando pelo mesmo papel que premiou Rita Moreno em 1961: as duas roubaram a cena nas versões de Amor, Sublime Amor. Até Cruella, que estava meio esquecido por ter estreado há mais tempo, levou Melhor Figurino.

Além de CODA na categoria principal, outra surpresa foi James Bond levar outro Oscar de Melhor Canção. Billie Eillish e Phineas ganharam por No Time to Die, de 007 – Sem Tempo para Morrer. Mas a maior atração da noite, que chamou mais atenção, sem dúvida, foi o tapa que Will Smith, Melhor Ator por King Richard: Criando Campeãs, deu em Chris Rock. Encenação? Realidade? Na hora, só o que sabíamos é que ficou um clima ruim na cerimônia.

Rock subiu ao palco para apresentar a categoria Melhor Documentário, que ficou com o ótimo Summer of Soul. Antes disso, como era de se esperar, o comediante soltou algumas piadas e acabou direcionando seu veneno a Jada Pinkett Smith, esposa de Will Smith, que iria em minutos sagrar-se Melhor Ator do ano. Rock mencionou um filme em que a personagem, militar, precisava raspar a cabeça, e insinuou que Pinkett Smith faria a sequência – por ser careca.

A doença com a qual a atriz convive já lhe trouxe muito sofrimento e ela não achou graça nenhuma na piada. Vendo o desconforto da esposa, Smith subiu ao palco e soltou um tapa na cara do apresentador. Nesse momento, na internet, com todos atônitos, começaram as teorias de que aquilo seria encenação, para pouco depois confirmarem se tratar de uma briga de fato. Ao voltar para seu lugar, Smith ainda proferiu algumas palavras pesadas, algo como “não diga o nome da minha mulher”.

Um ponto importante a ser discutido ganha aqui mais um exemplo: a necessidade que usuários de redes sociais têm de se posicionar frente a todas as questões lançadas. Sem pensar muito, no calor do momento (e ainda agora), muitos justificaram a cena do tapa e se posicionaram ao lado de Smith, “um herói” por defender a esposa. Outros, mais comedidos, condenaram o ato de violência, mesmo entendendo a justificativa.

De imediato, a Academia divulgou um comunicado afirmando ser contra qualquer ato de violência, para horas depois citar o astro nominalmente e avisar que a situação seria analisada e que Smith poderia vir a sofrer alguma penalidade. Independente de qual será o resultado da investigação, a conclusão é que os dois lados de uma discussão podem estar errados. Não é necessário que o internauta logo tire suas conclusões e saia cancelando um ou outro. O mais importante é refletir sobre o acontecido.

Uma grande questão levantada pelo amigo Tullio Dias, no Cinema de Buteco, refere-se aos limites do humor. Muitos humoristas fazem carreira depreciando minorias e vítimas fáceis, aquelas preferidas pelos bullies, que sofrem em escolas, no trabalho ou em qualquer lugar onde pessoas se reúnam. Mesmo aquele que sabe fazer piadas inteligentes, sobre situações e não sobre características físicas, corre o risco de errar a mão. Não é a intenção aqui fazer uma análise da carreira de Chris Rock. É fato que o ator volta e meia pegue pesado em suas observações e, aqui, ele errou feio.

Se a Academia decidisse retirar Smith da festa, teria que ser rápido, porque ele logo foi chamado ao palco para receber seu prêmio. No discurso, ficou emocionado e explicou que o choro não era por ter ganhado, mas pela vergonha de seu ato. Não pediu desculpas a Rock, mas lamentou o ocorrido e se desculpou à Academia e aos colegas ali presentes. A explicação de que “fazemos loucuras por amor” foi aplicada e ele chegou a se comparar ao personagem que interpreta, Richard Williams, dizendo fazer de tudo pela família.

A explosão causada por um ato de amor é uma justificativa perigosa que já foi usada para desculpar muita violência. Se é possível entender a reação do ator, mais difícil é apoiá-lo. É um precedente perigoso de se abrir. Teria sido mais interessante criticar o humorista sem graça no discurso? Se ele não vencesse na categoria, não teria a oportunidade. Rock não prestará queixa contra Smith provavelmente por aceitar o risco da profissão, de que em algum momento isso iria acontecer. O que mostra que ele sabe que é desagradável.

A lição que fica, se é possível tirar alguma desse episódio, é de que o humor nunca deve ser arma contra quem está sofrendo por qualquer que seja a razão. E que não se deve usar a violência para corrigir uma injustiça. É a velha máxima de que “dois errados não fazem um certo”. Antes de tomarem partido, os internautas podem pensar um instante e concluírem que pode ser que ninguém esteja correto. E que o episódio será sempre lembrado junto à vitória de Smith. Impossível separar uma coisa da outra.

A reação de Lupita Nyong’o, sentada próxima a Smith, tomou a rede

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Oscar 2022 – Indicados e Previsões

Domingo é dia de Oscar! A 94ª cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) será realizada mais uma vez no Teatro Dolby, em Los Angeles, e vai contar com três apresentadoras dividindo a função, depois que vários artistas recusaram o convite para apresentarem sozinhos. Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes são as encarregadas, além de vários convidados para anunciarem as estatuetas.

Este ano, oito das 23 categorias não farão parte da transmissão ao vivo, numa tentativa de reduzir a duração do evento. A ideia não pegou bem entre os profissionais das áreas em questão, ficou parecendo que elas (e eles) são menos importantes. Segundo a Academia, vai sobrar mais tempo para “comédia, clipes dos filmes e números musicais”, ou seja: cortaram parte do essencial para favorecer o supérfluo, como se isso fosse garantir mais público.

Entre os indicados, o destaque é Ataque dos Cães, lembrado em 12 categorias, seguido por Duna, que aparece em 10. A diretora de Ataque, Jane Campion, é a primeira mulher indicada duas vezes na categoria. Troy Kotsur, coadjuvante em CODA – No Ritmo do Coração, é o primeiro ator surdo indicado – a única atriz surda indicada, e vencedora, é a esposa dele no filme, Marlee Matlin (de Filhos do Silêncio, 1986). E Kenneth Branagh, diretor e roteirista de Belfast, já foi indicado em sete categorias diferentes, um recorde!

Há dois casais de atores indicados, um pelo mesmo filme (Jesse Plemons e Kirsten Dunst, de Ataque) e um por dois filmes distintos (Penélope Cruz, de Mães Paralelas, e Javier Bardem, de Apresentando os Ricardos). Há duas atrizes abertamente gays, Kristen Stewart e Ariana DeBose, e Cate Blanchett é a atriz com maior número de participações em indicados a Melhor Filme: nove. E Steven Spielberg conseguiu emplacar indicações como diretor em seis décadas seguidas, além de ter tido 11 de seus filmes entre os indicados na categoria principal.

Abaixo, você confere a lista de indicados por categoria, com links para as críticas disponíveis no Pipoqueiro. O número 1 em frente indica o meu palpite para o vencedor e o número 2 indica aquele que eu gostaria que ganhasse. Se os dois coincidirem, terá apenas um X.

MELHOR FILME

Belfast

CODA – No Ritmo do Coração

Não Olhe Para Cima

Drive My Car

Duna

King Richard: Criando Campeãs

Licorice Pizza

O Beco do Pesadelo

Ataque dos Cães – X

Amor, Sublime Amor

 

MELHOR DIREÇÃO

Kenneth Branagh, por Belfast

Ryûsuke Hamaguchi, por Drive My Car

Paul Thomas Anderson, por Licorice Pizza

Jane Campion, por Ataque dos Cães – X

Steven Spielberg, por Amor, Sublime Amor

 

MELHOR ATOR

Javier Bardem, por Apresentando os Ricardos

Benedict Cumberbatch, por Ataque dos Cães – 2

Andrew Garfield, por Tick, Tick… Boom!

Will Smith, por King Richard: Criando Campeãs – 1

Denzel Washington, por A Tragédia de Macbeth

 

MELHOR ATRIZ

Jessica Chastain, por Os Olhos de Tammy Faye – X

Olivia Colman, por A Filha Perdida

Penélope Cruz, por Mães Paralelas

Nicole Kidman, por Apresentando os Ricardos

Kristen Stewart, por Spencer

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Ciarán Hinds, por Belfast

Troy Kotsur, por No Ritmo do Coração – X

Jesse Plemons, por Ataque dos Cães

J.K. Simmons, por Apresentando os Ricardos

Kodi Smit-McPhee, por Ataque dos Cães

 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Jessie Buckley, em A Filha Perdida

Ariana DeBose, em Amor, Sublime Amor – X

Judi Dench, em Belfast

Kirsten Dunst, em Ataque dos Cães

Aunjanue Ellis, por King Richard: Criando Campeãs

 

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Kenneth Branagh, por Belfast – X

Adam McKay, por Não Olhe Para Cima

Zach Baylin, por King Richard: Criando Campeãs

Paul Thomas Anderson, por Licorice Pizza

Eskil Vogt & Joachim Trier, por A Pior Pessoa do Mundo

 

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Siân Heder, por No Ritmo do Coração – 1

Ryûsuke Hamaguchi & Takamasa Oe, por Drive My Car

Jon Spaiths, Denis Villeneuve & Eric Roth, por Duna – 2

Maggie Gyllenhaal, por A Filha Perdida

Jane Campion, por Ataque dos Cães

 

MELHOR FOTOGRAFIA

Greig Fraser, por Duna – X

Dan Lautsen, por O Beco do Pesadelo

Ari Wegner, por Ataque dos Cães

Bruno Delbonnel, por A Tragédia de Macbeth

Janusz Kominski, por Amor, Sublime Amor

 

MELHOR TRILHA SONORA

Nicholas Britell, por Não Olhe Para Cima

Hans Zimmer, por Duna – 1

Germaine Franco, por Encanto

Alberto Iglesias, por Mães Paralelas

Jonny Greenwood, por Ataque dos Cães – 2

 

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Be Alive (King Richard: Criando Campeãs)

Dos Oruguitas (Encanto) – 1

Down to Joy (Belfast) – 2

No Time to Die (007 – Sem Tempo Para Morrer)

Somehow You Do (Four Good Days)

 

MELHOR MONTAGEM

Hank Corwin, por Não Olhe Para Cima

Joe Walker, por Duna – X

Pamela Martin, por King Richard: Criando Campeãs

Peter Sciberras, por Ataque dos Cães

Myron Kerstein & Andrew Weisblum, por Tick, Tick… Boom!

 

MELHOR FIGURINO

Jenny Beavan, por Cruella – X

Massimo Cantini Parrini & Jacqueline Durran, por Cyrano

Jacqueline West & Robert Morgan, por Duna

Luis Sequeira, por O Beco do Pesadelo

Paul Tazewell, por Amor, Sublime Amor

 

MELHOR CABELO & MAQUIAGEM

Um Príncipe em Nova York 2

Cruella

Duna

Os Olhos de Tammy Faye – X

Casa Gucci

 

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

Patrick Vermette, por Duna – X

Tamara Deverell, por O Beco do Pesadelo

Grant Major, por Ataque dos Cães

Stefan Decbant, por A Tragédia de Macbeth

Adam Stockhausen, por Amor, Sublime Amor

 

MELHOR FILME INTERNACIONAL

Drive My Car (Japão) – 1

Flee (Dinamarca)

A Mão de Deus (Itália)

A Felicidade das Pequenas Coisas (Butão)

A Pior Pessoa do Mundo (Noruega) – 2

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA-METRAGEM

Ascensão

Attica

Flee

Summer of Soul (… ou Quando a Revolução Não Pode Ser Televisionada) – X

Escrevendo com Fogo

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA METRAGEM

Audible – X

Onde Eu Moro

The Queen of Basketball

Três Canções para Benazir

When We Were Bullies

 

MELHOR ANIMAÇÃO EM LONGA METRAGEM

Encanto – X

Flee

Luca

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Raya e o Último Dragão

 

MELHOR ANIMAÇÃO EM CURTA METRAGEM

Affairs of the Art

Bestia

Boxballet

A Sabiá Sabiazinha – X

The Windshield Wiper

 

MELHOR CURTA METRAGEM EM LIVE-ACTION

Ala Kachuu – Take and Run

The Dress

The Long Goodbye – X

On My Mind

Please Hold

 

MELHOR SOM

Belfast

Duna – X

007 – Sem Tempo Para Morrer

Ataque dos Cães

Amor, Sublime Amor

 

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Duna – 1

Free Guy: Assumindo o Controle

007 – Sem Tempo Para Morrer

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa – 2

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No Ritmo do Coração traz prêmios para família de surdos

Sigla que, do inglês, significa “filho de adultos surdos”, CODA é o título de um dos dez indicados ao Oscar de Melhor Filme este ano. O longa chega ao Brasil com um título bem mais açucarado: No Ritmo do Coração (2021), que é até condizente com a história. A protagonista, a adolescente Ruby Rossi, é a única da família que ouve, e chega na idade em que deve decidir se continua a trabalhar com o pai e o irmão, ajudando-os, ou se vai para a faculdade realizar seu sonho de estudar música.

É curioso que a única da família que consegue ouvir queira seguir carreira cantando. A mãe, em determinado momento, pergunta a ela: “Se eu fosse cega, você seria fotógrafa?” O fato de os três atores serem de fato surdos traz uma riqueza enorme para o filme. Conseguimos ver como é a rotina da família e os desafios que surgem e precisam ser contornados. Ruby acaba servindo de intérprete, já que domina a língua de sinais e faz a ponte para os demais. A melhor palavra para definir o filme é “adorável”. E as ótimas músicas da trilha só ajudam no sorriso no rosto.

Além de ter que aprender a língua de sinais, a atriz Emilia Jones precisou também se virar em um barco pesqueiro, atividade do pai e do irmão da personagem. Conhecida pela série Locke & Key, Jones ainda revela grande talento para o canto, e não à toa foi indicada como Melhor Atriz ao BAFTA. O colega dela, Troy Kotsur, levou prêmios pelo trabalho como o pai dos Rossi. Com várias participações em filmes e séries (mais recentemente em The Mandalorian), Kotsur também tem uma longa carreira no teatro e como diretor.

Mais conhecida do elenco, outra a mostrar as caras em CODA é Marlee Matlin, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por seu filme de estreia, Filhos do Silêncio (1986). Ela vive a mãe de Ruby e, ao lado de Kotsur, fazem um casal simpático e longe de estereótipos. O quarto membro da família, o filho Leo, é interpretado por Daniel Durant (da série You), que tem bons momentos reservados pelo roteiro da também diretora Sian Heder, comandando aqui seu segundo longa (após Tallulah, de 2016).

Refilmagem do francês A Família Bélier (2014), CODA conseguiu força suficiente para fugir das comparações inevitáveis e cavou seu lugar na temporada de premiações. Seu elenco forte e o roteiro adaptado por Heder são os pontos mais reconhecidos. Kotsur é o primeiro ator surdo a receber uma indicação ao Oscar (como coadjuvante) e levou o BAFTA, assim como Heder (pelo roteiro). Já são mais de 55 vitórias e 137 indicações, e a contagem segue. Os envolvidos certamente terão muitas oportunidades, depois de tanto sucesso.

Emilia Jones precisou aprender a língua de sinais enquanto filmava Locke & Key

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