Venom é apenas mais um filme de super-herói

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Quando apareceu pela primeira vez, em Amazing Spider-Man 300, em 1988, Venom chamou a atenção dos fãs do herói aracnídeo. Ele era, afinal de contas, uma espécie de gêmeo malvado de Peter Parker, trajando o simbionte descoberto pelo herói durante o evento conhecido como “Guerras Secretas”.

Depois daquele primeiro confronto, a Marvel percebeu que as vendas dos quadrinhos do aracnídeo sempre tinham uma alta a cada aparição de Venom. Assim sendo, a editora traçou um plano para explorar aquela marca ao máximo possível. Venom passou de vilão para anti-herói, se aliando algumas vezes ao Homem-Aranha, até herói de fato, já que, só assim, a editora poderia lhe conceder um título-solo.

Foi na tentativa de se aproveitar de todo esse histórico que a Sony decidiu que seria uma boa ideia produzir um longa solo de Venom, o primeiro de uma série de derivados focados nos coadjuvantes/vilões do herói aracnídeo. E o resultado, como se poderia esperar, é um filme divertido, mas nada memorável.

Venom (2018) gira em torno de Eddie Brock (Tom Hardy, de Dunkirk, 2017). Eddie é um daqueles caras cuja vida parece ir muito bem. Ele é um repórter investigativo de sucesso e está prestes a se casar com Annie (Michelle Williams, de Todo o Dinheiro do Mundo, 2017), uma advogada bem sucedida. Tudo parece ir muito bem para Eddie, até que ele comete um erro durante uma entrevista. A atitude de Eddie então detona uma cadeia de eventos que faz com que perca tudo que lhe é mais caro.

Quando tudo parece que não pode piorar, Eddie recebe uma chance de corrigir seu erro e, quem sabe, se redimir perante as pessoas que prejudicou, especialmente Annie. Ao abraçar relutantemente essa chance, ele acaba se unindo ao simbionte Venom e a partir daí as coisas progridem mais ou menos como o esperado em filmes desse gênero.

Venom é um longa de origem e, como em todo filme desse tipo, vemos claramente o protagonista passando por todos os passos que envolvem a jornada do herói. Eddie tem que cumpri-los em pouco menos de 120 minutos e consegue fazê-lo a contento. O filme tem um bom ritmo, um bom balanço entre as cenas de ação e as dramáticas e o Eddie de Tom Hardy quase nos faz sentir uma certa identificação com o personagem.

O problema mesmo se encontra no roteiro. Mesmo o filme tendo um bom ritmo, algumas das passagens parecem meio atropeladas e algumas situações, forçadas. Há algumas soluções preguiçosas, buracos na história e aqueles clichês que já foram usados e abusados em filmes de heróis. Ou mesmo em filmes de ação em geral. Claro, também há algumas sequências que foram claramente escritas apenas para agradar aos fãs do personagem, que, se não incomodam, adicionam mais buracos à trama. E, quando me refiro a buracos, não é coisa do tipo “eu faria diferente”. São coisas que realmente não dão muita liga dentro da história sendo contada.

Apesar disso tudo, o filme tem seus méritos. As sequências de ação foram muito bem coreografadas e o elenco principal (que, além de Hardy e Williams, conta com Riz Ahmed, Jenny Slate, Scott Haze e Peggy Lu) atua de maneira competente. Os efeitos visuais e o CGI estão bem feitos, ainda que algumas das sequências pareçam um pouco escuras, e o visual do protagonista, ainda que não 100% fiel ao original, merece elogios.

Venom é um filme divertido, que entretém o espectador em suas quase duas horas de duração, mas não é nada memorável. Seu maior mérito é nos fazer esquecer a versão horrorosa do personagem que os executivos da Sony obrigaram Sam Raimi a enfiar em Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3, 2007). A ideia da Sony é que Venom se torne uma nova franquia. Apesar de ter feito US$ 80 milhões nos Estados Unidos apenas neste fim de semana (um valor acima do obtido por Homem-Formiga e a Vespa, por exemplo), veremos se o filme tem fôlego o suficiente para que o retorno nas bilheterias faça com que a Sony siga em frente com seus planos.

A exemplo de quase todos os filmes de heróis da atualidade, Venom tem duas cenas nos créditos. Uma delas nos dá uma ideia do que viria em uma possível sequência, enquanto que a outra tem um valor diferenciado. Por isso, vale a pena ficar no cinema para esperar por elas.

Hardy e seus coadjuvantes, Williams e Ahmed

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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