Bola fora

  Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Sempre fui uma pessoa lúgubre. Não que seja depressão, porque isso é coisa séria. O que ocorre é que, desde criança, a tristeza me desperta algum fascínio. Foi assim na Copa de 1994. Quando o Roberto Baggio chutou a bola por cima do gol, vi o massagista da Seleção dar cambalhota no gramado e o Taffarel cair de joelhos, levantando as mãos … Continuar lendo Bola fora

Caso de polícia

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Vovó Márcia não esperava ninguém quando a campainha tocou. Já se passava das três, e ela ainda tinha de molhar as roseiras, fazer ginástica pelo YouTube, lavar a louça suja na pia e, depois de zanzar pela casa inteira, poderia enfim sentar-se no sofá, quando tricotaria setenta e cinco pares de sapatinhos coloridos para o bisneto, que chega em janeiro. E quem diabos … Continuar lendo Caso de polícia

Surpresas no elevador

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Pessoas entram e saem dos elevadores, mas não vão embora. No meu prédio, há uma senhora muito jeitosa, cabelos arrumados e os olhos roubados pela tela do celular. Usa roupas requintadas e abusa de uma colônia que cheira a flores do campo. E não percebe que, mesmo depois de trancar-se no apartamento e afundar-se no sofá, quando troca o celular pela Netflix, ela … Continuar lendo Surpresas no elevador

A cachorra Bisteca

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Um continho de terror… Toda quarta-feira era assim: d. Vitória não tinha sossego. Noite de futebol na tevê, Fabiano, o marido beberrão, se esparramava no sofá. Abria a primeira lata de cerveja, estirava as pernas pro alto e enchia a mão de amendoim torrado. Fazia da barriga grande e espalmada a sua mesa de bar. Bisteca, a cachorra aborrecida, via aquilo tudo e … Continuar lendo A cachorra Bisteca

Feijão tropeiro

Nem só de coxinha de frango, guaraná barato e piada com o Cruzeiro se faz uma missão presidencial de respeito em Minas Gerais. Foi outro nobre dever ultraextraoficial, de grande pequeneza cívica e de admirável amor à pátria odiada, que levou o presidente do Brasil a marchar por estas bandas de cá: a busca pela receita perfeita de… políticas públicas? modelos de gestão? boas práticas … Continuar lendo Feijão tropeiro

Por trás das máscaras - Fonte: Pixabay

Por trás das máscaras

Daniela Piroli Cabralcontato@danielapiroli.com.br Que há uma tensão constante entre o princípio do prazer e o princípio da realidade a gente sempre soube. Freud explicou brilhantemente sobre a operação dessa briga implícita na nossa psiquê. O que a gente não esperava é que o princípio da realidade se impusesse de tal forma e por tanto tempo, obrigando-nos a adiar nossas satisfações, projetos e sonhos. E hoje, … Continuar lendo Por trás das máscaras

‘Santa Ceia’ invertida

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Correu pelos nove círculos do inferno, até chegar aos ouvidos do chefe. Foi quando soube de uma famosa pintura que retratava o seu rival, esbanjando-se à mesa farta ao lado de 12 bons companheiros, e que vinha causando um alvoroço no reino dos mortais. Agora não havia pecado capital que o fizesse desistir. Tinha a ideia fixa na cabeça, como o próprio par … Continuar lendo ‘Santa Ceia’ invertida

‘Lives’

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com A vida em caixote vem nos impondo, além de corpos isolados, cabeças surtadas — a do presidente então: pifou! — e coraçõezinhos apertados, experiências dignas de um conto de Franz Kafka. Um desses rompantes do absurdo ocorreu no último sábado, enquanto assistíamos ao festival de lives — do inglês: ao vivo, só que gravado — “One World: Together at Home”, transmitido na internet. … Continuar lendo ‘Lives’

A Revolução

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com A peste estava às soltas nas ruas de Belo Vertical. Jamil, o prefeito da cidade, preocupado com o povo, decretou um baita “nada disso” por aquelas bandas. Nada era permitido. Nada de botequim, nada de perambular por aí, nada fuxicar a vida dos outros com a vizinhança. Ainda assim, vez ou outra os guardas de Jamil precisavam dispersar um carteado aqui e um … Continuar lendo A Revolução

Razão entre os loucos

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Victor Hugo acabou O corcunda de Notre-Dame junto com o seu pote de tinta. E talvez não haja outra passagem em que tenha usado pena, papiro e tinteiro com tanta profusão criativa quanto o fez ao descrever a feiura do dito cujo, o seu personagem mais popular, Quasímodo. Deu-se algo assim a pobre criatura, abre aspas: era um nariz tetraédrico, uma boca em … Continuar lendo Razão entre os loucos