Galerie Neue Meister, Dresden, Germany © Staatliche Kunstsammlungen Dresden/Bridgeman Images

Alusão

Victória Farias LunaçãoPrólogo A Lua, depois de pedir conselhos para cinquenta astros e estrelas diferentes, ouviu exatamente o que queria. Finalmente – pensa – enquanto as palavras saem da boca do seu interlocutor. As mesmas palavras que brilhavam em sua mente constantemente como uma supernova. Estava aliviada. Um redentor, transvestido de razão, levou embora sua culpa. Na sua inocência chegou até a pensar, embora sem … Continuar lendo Alusão

Polaroid

– “Maria, Hoje acordei pensando em ti. Espero que me perdoe o mau jeito. Faz tempo que penso em te escrever, mas meus dedos não obedecem os comandos do meu cérebro, que está ocupado demais tentando acalmar meu coração. Mas pensei em te mandar essa postagem para contar como tem sido as coisas por aqui. Começa a fazer frio, então tive que tirar as cobertas … Continuar lendo Polaroid

Cælum est ubis solem lucet

Victória Farias Muita carne para pouca vida; todas as minhas vivências transpassam meus poros e fazem tremer de forma involuntária minhas mãos, como se se lembrassem de um toque de choque ou de um beijo surpresa. Nietzsche disse que nenhuma inspiração nasce do vazio; que a maioria delas são como ideias represadas que irrompem e transformam. Para mim, meus pensamentos seguem como medidos por um … Continuar lendo Cælum est ubis solem lucet

Notas

Victória Farias Nada tão denso, que mereça uma profunda admiração e dedicação consciente do ser, tem acontecido ultimamente. Tudo tem sido superficial e pela metade, sob aviso prévio e sem surpresas. Cada coisa em seu lugar e nada sem encaixe. Nada mais nos pega desprevenidos, e até as tristezas, que pretendiam chegar sem serem anunciadas, parecem se moldar perfeitamente ao nosso momento. As pequenas esperanças … Continuar lendo Notas

Noite Severina

Vinte e sete minutos me separavam do centro da cidade.  Vinte e sete preciosos minutos, que poderiam ser gastos de forma mais inteligente do que passando insistentemente as músicas no Spotify. Não para a minha surpresa e muito menos para o meu deleite, nenhuma delas me agradava. Estávamos parados naquele mesmo lugar, dividindo janela com o mesmo ônibus, há quase uma hora. Pela quarta vez esbarrei … Continuar lendo Noite Severina

Duas da manhã

Victória Farias O momento exato eu nunca saberei precisar. Aqueles gestos ficaram impregnados na minha cabeça e por mais que me esforce, a única informação que consigo me lembrar daquela noite é: são duas da manhã. Talvez, em algum momento, eu tenha tido noção disso; ou talvez tenha deixado de contar os segundos sem sentir. Não saberei dizer com certeza porque nunca conseguirei acessar novamente … Continuar lendo Duas da manhã

Copo Lagoinha

Victória Farias Todas as mentes que lotam os bares de Belo Horizonte, em pleno frio de 8º graus, estão perdidas? Divagando? Procurando alguma coisa afundada em copos Lagoinha? Tentando se encontrar ou encontrar algum igual? Embalados pela bossa nova que move os esqueletos que se debatem, com as cordas do violão relembrando notas que trazem um estranho sentimento de aconchego. A conversa atravessada entre as … Continuar lendo Copo Lagoinha

Todos contra um

Victória Farias Eu descobri que era resistente a morfina depois de uma cirurgia. Uma enfermeira veio e informou que estava aplicando 10 ml no soro, o máximo que poderia me oferecer dentro de um espaço de tempo. Não resolveu. Se ela tivesse colocado água mineral ao invés do remédio, talvez o efeito placebo teria melhor resultado.  A dor, em todos os sentidos, era excruciante. Lembro … Continuar lendo Todos contra um

Paul Cézanne - (1892)

A mais engraçada das histórias

24 de agosto de 1983. Um homem de chapéu-coco repousa um resto de cigarro na boca, o mesmo que fumava desde as nove da manhã. Ao meio-dia, o sol acerta o centro da sua cabeça como um policial treinado acertaria um tiro no escuro. Ele se arrepia como se um espírito tivesse o atravessado.  Encostado no poste em frente ao Banco do Brasil, acompanha a … Continuar lendo A mais engraçada das histórias

Depois da meia-noite

Depois da meia-noite, o quarto escuro geralmente começava a receber a luminosidade dos postes da rua. Aos poucos, os lampejos iam se incorporando em um tom amarelado, que era lentamente percebido pelo olho direito, que colecionava, em cor marrom escura, astigmatismo e miopia. Podia enxergar, mas duvidava do que via. Uma certeza tinha, pois checara o relógio antes de se deitar: já passava da meia-noite. … Continuar lendo Depois da meia-noite