Confissões de uma pessoa intuitiva

Tais Civitarese Existe uma solidão particular que sentimos quando percebemos algo que as outras pessoas não vêem. Às vezes, algo se mostra para nós com tanta clareza, mas tanta, que parece estranho que sejamos os únicos a ver. Não estou falando de mediunidade ou algo assim. Refiro-me às impressões sobre os fatos corriqueiros da vida, sobre situações e pessoas que encontramos no caminho. Às vezes, … Continuar lendo Confissões de uma pessoa intuitiva

Desconstrua-se ou devoro-te - Foto: Desconstrua-se ou devoro-te

Desconstrua-se ou devoro-te

Tais Civitarese Alguns dizem que viver os anos dois mil e vinte e um é um constante pisar em ovos. Cada palavra proferida pode ferir uma outra pessoa. Uma frase mal pensada é passível de processo na justiça. Uma reação automática, considerada crime ou preconceito. Alguns reclamam que está chato viver. Que não se pode mais falar nada. Excluídos alguns exageros, considero que vivenciamos uma … Continuar lendo Desconstrua-se ou devoro-te

O roubo e o arroubo

Tais Civitarese Tudo começou com um sumiço. Durante a noite, sorrateiramente, sumiram o cabo e o martelo. Dias depois, sumiu o serrote. E a situação foi ficando complicada. Como reparar as coisas sem ferramentas? O que mais poderia desaparecer, assim, sem mais nem menos? Para consertar tudo, surgiu uma ideia. Convocarmos um guardião, um segurança. E foi aí que ele apareceu…  Ele tem três meses. … Continuar lendo O roubo e o arroubo

Lições de um capuccino

Tais Civitarese Um tarde dessas, em uma fase flexibilizada do comércio, fui tomar café com uma amiga no shopping. Permitimo-nos tal indulgência por ser uma amizade muito valiosa, digna de enfrentar restrições de circulação relativas e essencialmente terapêutica para o espírito. Máscaras em face, após inúmeras confidências, pães de queijo e goles gostosos no capuccino, seguimos nosso caminho. Minha amiga, ecológica, chamou seu uber e … Continuar lendo Lições de um capuccino

Joanete - Foto: pixabay

Joanete

Tais Civitarese Meu pé esquerdo está doendo dentro do sapato. É uma dor em um local específico, que fica junto à articulação do dedão com o primeiro metatarso: o chamado joanete. Mesmo calçada, ele salta aos olhos. Está alto e um pouco vermelho. A cada passo, saúda-me a ironia estranha que só as dores têm para nos lembrarem de que estamos vivos. Ele lateja e … Continuar lendo Joanete

O caso dos gatos

Tais Civitarese Durante o período principal da minha infância, morei em um apartamento do primeiro andar. Lá, tinha uma varanda. No seu canteiro, minha mãe plantava flores: azaléias, buganvílias, beijinhos, manacás. Nas jardineiras laterais, mais altas, gerânios e espadas de São Jorge.  Era o lugar onde minha irmã e eu brincávamos. Balançávamos na rede, soltávamos bolhas de sabão, fazíamos pinturas, modelávamos argila. Era onde se … Continuar lendo O caso dos gatos

Natureza

Tais Civitarese Meus filhos não conheciam relâmpago. Nunca tinham visto uma cigarra. Achavam que o céu tinha estrelas, mas não tantas. Arco-íris, só no desenho animado.Granizo? Parecia palavra escrita errado. Dia e noite davam meio que no mesmo. Estavam sempre do lado de dentro, sob alguma lâmpada de led.Árvore era coisa para as férias. Insetos, uma preocupação mortífera. Nunca tinham plantado uma semente na terra.Frio e calor eram só para trocar de roupa. A … Continuar lendo Natureza

Imagem de lil_foot_ por Pixabay - Estudos mostram

Estudos mostram

Tais Civitarese Minha irmã e eu fomos criadas para estudar. Estudar foi tudo o que nossos pais nos incentivaram a fazer a vida toda. Não éramos do esporte, apesar de o praticarmos (pessimamente) por obrigação. Não éramos da dança, apesar de minha irmã levar mais jeito do que eu. Não éramos também das artes, exceto pelas redações solicitadas na escola ou por desenhos feitos sem … Continuar lendo Estudos mostram

Casos de vovô

Tais Civitarese Como já contei aqui, adotei um avô. Tomei o avô de meu marido como meu. Ouvir suas histórias nesses dias pandêmicos tem sido um momento de respiro e grande alegria para mim.  Vovô conta que em sua infância, nos anos 40, a valentia era o valor mais nobre entre os meninos. Era bom quem sabia brigar. Vovô não gostava de briga, mas seu … Continuar lendo Casos de vovô

Imagem de StockSnap por Pixabay

Sentimentos do momento

Tais Civitarese Outro dia, flagrei-me emocionada ao estar entre os residentes do ambulatório em que atendo, às terças-feiras. Meu Deus, são pessoas! – Pensei. Não eram telas, textos ou áudios digitais. Por estranha que soe esta afirmação, em tempos de isolamento social, aquele curto período de convivência e assistência em saúde mental soou como um recrudescimento da sensação de pertencer à humanidade. Colocar tudo em … Continuar lendo Sentimentos do momento