No aeroporto

Rosangela Maluf Ao descer do avião, tudo parecia estar em silêncio naquele aeroporto tão movimentado. Ninguém falava nada. Não se ouvia nenhuma palavra. Nenhum ruído, nenhum som. Silêncio completo. Entretanto seu coração fazia barulho, batia forte. Um tum-tum-tum intenso. Respirava fundo tentando não demonstrar a imensa ansiedade que lhe consumia. Andava calmamente para disfarçar o tremor das pernas. Trocou de mão a pequena valise que … Continuar lendo No aeroporto

Made in Italy

Rosangela Maluf A conversa entre elas passava sempre pelo mesmo crivo: como andam os amiguinhos da internet? Aos sessenta anos, as três amigas se divertiam com as paqueras virtuais, aquelas com duração máxima de quinze dias, em média. Depois, tudo ia perdendo a graça e os amigos atuais se mostravam tão desinteressantes quanto os anteriores. Não estava sendo fácil. Muita gente, pouco interesse e uma … Continuar lendo Made in Italy

Uma certa mulher ao espelho

Essa mulher em frente ao espelho sou eu. Envelhecida, trago no rosto rugas profundas. Tenho o semblante pesado e tristonho. Essa mulher sou eu? Acendo a luz e me sinto ainda pior. O que vejo não me agrada. Levo um tempo observando melhor as marcas que o passar dos anos deixou em mim. Respiro fundo, mas não choro. Minhas lágrimas secaram. Faz tempo que não … Continuar lendo Uma certa mulher ao espelho

A Moça de Oxford

Rosangela Maluf É muito comum aceitar novos amigos virtuais, baseando-se apenas no número de conhecidos em comum. Foi o que aconteceu quando ela me solicitou amizade, pelo Facebook. Em alguns finais de semana, por culpa dos algoritmos (ou não), o número de solicitações é muito grande, dá até preguiça. E naquele domingo foram muitos os pedidos de amizade, mais de quarenta. Aceitei vários e deletei muitos.  … Continuar lendo A Moça de Oxford

O mau olhado da dona Filó

Rosangela Maluf Parte I Aos meus olhos de criança, dona Filomena – por ser tão velhinha – deveria estar bem perto da morte. À época, nós, crianças, pensávamos que só gente velha morria. Sempre que o sino tocava e o triste badalar indicava uma morte, a criançada logo imaginava que um de nós perdera um avô. Sim, morriam mais avôs do que avós. A estatística … Continuar lendo O mau olhado da dona Filó

Um Dia de cão

Rosangela Maluf Domingo. Acordo com o barulho irritante de um pancadão. Como assim, tão cedo, a esta hora da manhã? Acendo o abajur. Não acredito: 6h12! Gente! Manhã de domingo e este barulho insuportável, como é possível? Levanto-me, abro as cortinas. O dia está claro, o céu azul, mas o sol ainda não surgiu na paisagem. O som irritante continua. Muitas vozes, alguns gritinhos e … Continuar lendo Um Dia de cão

Quando eu morri...

Quando eu morri…

Rosangela Maluf Ontem, quando eu morri, era quarta-feira, 19 de abril, dois dias após o meu aniversário de 50 anos. Não pensei que uma cirurgia tão simples pudesse terminar em uma parada cardíaca. Estou achando que estou indo cedo demais, mas não teve mesmo jeito. A moça de azul entrou na sala do CTI, verificou os fios, suspirou profundamente, me olhou e apertou uma campainha … Continuar lendo Quando eu morri…

O Imprevisível

Rosangela Maluf Aquela menina bem poderia ser sua filha. Aos sessenta, ter uma filha de quarenta era uma possibilidade real. Ela, por sua vez, era pediatra, casada, com duas filhas, mas totalmente fora dos padrões. Layla parecia mesmo uma garota rebelde. Magrinha, miúda, cabelo curto, cor laranja. Tatuagens. Muitos brincos. Muito falante, muito divertida. Responsável no trabalho. Dona de casa exigente. Mãe dedicada de duas … Continuar lendo O Imprevisível