Sandra Belchiolina
O espírito de Natal chega sem alarde. Baixa em nós como um sopro e nos lembra que Natal vem de nascer. E nascer é isso: renovar desejos, refazer promessas, insistir na esperança de um mundo mais habitável.
Ano após ano, repetimos o ritual da renovação. Queremos deixar para trás o que pesa, o que fere, o que cansa. Com a proximidade do ano novo, reforçamos votos de vida nova, como se o calendário pudesse, por si só, reorganizar o coração. Caminhamos em ciclos, sustentados mais pelo desejo de transformação do que por sua certeza.
O Natal também mede afetos. Para alguns, é encontro e magia; para outros, um esforço silencioso, uma comunhão que nem sempre se realiza. As mesas se armam, os gestos se repetem, e nem todas as feridas se fecham. Ainda assim, o Natal acontece. Mesmo imperfeito, ele insiste.
Entre luzes, enfeites e expectativas, a infância devolve ao mundo sua capacidade de espanto. O brilho nos olhos, a curiosidade diante do mistério, a crença que vacila, mas ainda resiste. Crescer é perceber os fios da fantasia — e, apesar disso, desejar que a magia permaneça.
Que o espírito de Natal não se limite a um dia no calendário. Que ele renasça em gestos simples, na esperança cotidiana, na possibilidade de encontro. Que a luz que buscamos não dependa de ilusões, mas de ações que façam da vida um espaço mais habitável.