Sandra Belchiolina
O correr da vida embrulha tudo — dizia Guimarães Rosa. Já Milton Nascimento canta que “o mesmo trem que chega é o que parte”, e assim a vida se repete na estação.
Chega Gabriel, parte Maria. A vida gira, alterna. Uns chegam para ficar, outros partem para nunca mais. Entre risos e lágrimas, entre presenças e ausências, uma vida se conclui, outra se inicia.
No revoltoso mar da existência, as cambotas — reviravoltas — nos surpreendem. Seria um jacarezinho? Por que não? Uma pedra no caminho? Talvez. Ou uma onda dessas que vão e vêm, num movimento contínuo. Afinal, chegar e partir são apenas as duas faces da mesma moeda.
A vida se inventa. A vida se reinventa. Viver — já dizia Rosa — é perigoso? Talvez não. Mas certamente exige coragem. E é com ela que seguimos, à maneira do escritor que nos guia por veredas cheias de mistério: “Nem se explica essas coisas. Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.”
Sentidor: aquele que sente… na dor. Carlos Drummond soube disso quando, diante da pedra, repetia: “No meio do caminho tinha uma pedra…” — uma pedra diante de minhas retinas fatigadas.
E o caminho? Só se reconhece seu traço ao fim da travessia — ainda que seja a travessia, em si, o próprio caminho.
Mas é preciso coragem e determinação para cada passo.