O Dia em que Paguei 300 Dólares para Não Congelar na Calçada

Wander Aguiar

Aproveitando o gancho da foto, hoje conto sobre a aventura da última primeira noite em Nova York.

Era meu primeiro destino após a pandemia e, como eu não sabia como seria a vida do turista nesse “novo mundo”, fiz questão de me preparar o máximo possível para evitar o maior número de perrengues. Sabendo que chegaria de madrugada, liguei para o hotel confirmando minha reserva e informando o horário de chegada, tudo para evitar qualquer tipo de transtorno.

Cheguei ao aeroporto por volta de meia-noite e, até passar pela imigração e avaliar a melhor relação custo-benefício para chegar ao hotel, já passava da uma da manhã. O metrô acabou sendo minha opção, pois uma simples viagem de vinte ou trinta minutos de Uber custava pouco mais de 100 dólares, o que, na época, equivalia a cerca de 600 reais. Em contrapartida, o metrô me levaria em pouco mais de uma hora por algo em torno de 50 reais.

Confesso que me arrependi um pouco, pois o metrô demorava a passar e estava vazio, frequentado por moradores de rua e usuários de drogas, o que tornava o ambiente inseguro para um viajante feliz e recém-desembarcado. Ainda assim, digo com honestidade que essa parte foi até tranquila. O verdadeiro terror começou na porta do hotel.

No auge do inverno, com os termômetros marcando quase doze graus negativos, encontrei a porta do hotel trancada. Pensei: “Talvez o recepcionista tenha ido ao banheiro e já esteja voltando, ou, no máximo, esteja cochilando e eu o acordarei com a campainha”. Ledo engano, meus queridos leitores. Depois de muita insistência, percebi que não havia ninguém para me receber. Liguei para os telefones que eu tinha e ninguém atendeu. Nesse momento, já havia aberto minha mala no meio da calçada para pegar mais roupas e não congelar diante do lugar onde eu já deveria estar dormindo.

Depois de procurar algo perto que estivesse aberto e não ter êxito na missão, recorri ao Google e descobri que havia um hotel muito próximo. Ainda acreditando que conseguiria entrar no meu, fui até lá para saber se alguém tinha alguma informação sobre o funcionamento daquele estabelecimento. Não recebi muita ajuda, mas saí com uma informação valiosa: embora cobrassem 300 dólares por uma pernoite, se eu realmente não conseguisse entrar no outro hotel, poderia dormir nesse novo.

Insisti novamente e não tive sucesso. Com o roteiro já programado para a manhã que logo se aproximava, rendi-me àquela pequena fortuna e, finalmente, consegui descansar.

Na manhã seguinte, fui até meu hotel original com sangue nos olhos e pronto para usar todos os palavrões possíveis que conheço em inglês.

Depois de alguns pedidos de desculpas, da promessa de devolução do valor gasto no outro hotel e ainda com direito a um upgrade no quarto, descobri que o recepcionista da noite anterior simplesmente havia abandonado o emprego sem dar satisfação aos patrões. Gastei apenas metade do meu repertório de xingamentos, afinal, meu roteiro na Big Apple precisava começar.

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