Silvia Ribeiro

Fiquei pensando em algumas coisas que podem gerar uma separação. E diante de uma imensurável lista me deparei com um senso em especial.

É renomada por entrar em muitos lares, atormentar numerosos intelectos e fraturar corações ferozmente como se fosse um fino cristal. Parece até que anda por aí como um magistrado assinando pontos finais.

Explorando alguns elementos sou capaz de sugerir que se trata de uma vilã como essas de novela mexicana. Aquela malfalada que mora em bocas de Matilde e nas janelas da vizinhança.

Rotina!

Sorrateiramente ela invade a nossa relação, se transforma num acervo de futilidades e insignificâncias capaz de ruir um prédio, e até de remodelar todo o design da nossa consciência. Em certos lugares alcançamos pegadas da sua ferina face contribuindo para distorcer tudo aquilo que a gente considerava como sendo sólido.

O dia a dia junta miudezas que vão se aglomerando até ocasionar um abortamento fatídico. E quando percebemos estamos velando um vínculo que já passou desta para melhor sem ao menos dizer adeus.

Pensa numa criaturinha que tem força!

Pode ser que em alguns casos o destino entre em ação e se comprometa a mudar o contexto de toda uma história promovendo um vale a pena ver de novo. Depois de todo o abalo nos alicerces da relação alguma reconciliação de urgência chega tapando buracos, querendo colar cacos e tentando florescer sem adubos.

O problema é que a volta é sempre mais exigente e ambos já estão contaminados por uma espécie de vírus resistente. Cobranças arrogantes a curto prazo, promessas que provavelmente não vingarão e premissas onipotentes de posse.

E lá pelas tantas, uma tentativa de minimizar a culpa aparece munida de um “eu te avisei”, aparentando querer favorecer o companheiro(a) neste imprevisível e turbulento retorno. E em poucos dias aquele apaziguamento já se transformou repetidamente em quinquilharias que os dois querem loucamente colocar na lixeira.

Até que um lenitivo nos surpreende com uma cura absoluta. Roupas novas são penduradas no cabide, água de cheiro garante a independência dos nossos lençóis e incensos são usados pra espantar as lembranças.

Uma ousadia recai sobre a nossa própria substância e nos capacita pra conviver com esse ápice de “agora é cada um por si”. E o que parecia ser um semideus(a) perde todas as suas virtudes. Isso muda todo o contexto dessa cisão e viramos defensores incansáveis da liberdade do dia pra noite, com direito a bandeiras flamulando dentro do coração

Podemos dizer que o fim do mundo não é tão próximo como imaginávamos, que as paranoias do medo se dissipam com habilidade e que aquele buraco que parecia profundo é bem mais raso do que aparentava ser.

Abrimos a nossa melhor garrafa de vinho, pomos um bom sorriso no rosto e nos tornamos brilhantes na arte de amar.

Aventuramos até a dizer- foi melhor assim!

Um comentário sobre “Separação 

  1. Podemos dizer que o fim do mundo não é tão próximo como imaginávamos, que as paranoias do medo se dissipam com habilidade e que aquele buraco que parecia profundo é bem mais raso do que aparentava ser.

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