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A desonestidade intelectual

Eduardo de Ávila

Quero falar sobre a infelicidade do presidente Lula na semana passada ao se referir à nova ministra Gleisi Hoffmann como “uma mulher bonita”. A fala do líder maior do PT – se fosse na boca do dinossauro Bozo – seria impiedosamente atacada pela esquerda sob o olhar cínico e complacente dos seguidores desse bronco. Esse sujeito, Bozo, encanta desprovidos de senso crítico e até de honestidade de princípios morais e éticos. Mas esquecem chupetinhas e chupetões que o sagaz contraponto é um ridículo personagem do sarcasmo alheio. E batem palmas e pedem bis.

Fato é que Lula derrapou sim, não foi a primeira vez e nem será a última, pois – ele como nós – está sujeito a deslizes. Ocorre, porém, que o Luís Inácio pode cometer gafes, já ao presidente isso não é bem recebido. Não sei qual foi pior, essa do Lula ou do governador comer banana com casca, com a intenção infeliz de buscar visibilidade nos ataques ao presidente. A assessoria de ambos parece não ter coragem de chegar no pé do ouvido e dizer: “porque não te calas”. No caso doméstico dos mineiros, pior, vem elevando o tom sob o silêncio conivente e conveniente da sua entourage e incentivado pelos teteus, eteus e areteus de olho em eventuais dividendos políticos deles e não de seu ator comediante. Trocando em miúdos, fazendo ele de besta. Boi de piranha.

Mas, quanto ao presidente, me lembro e tenho razoável memória já coleciona uma seleção de gafes ao longo dos tempos e mandatos. Nos exercícios anteriores, felizmente abandonou o bordão, que “nunca antes na história desse país”, ignorando e desdenhando grandes presidentes que o Brasil teve ao longo da história. Evitando citar e enumerar, mencionaria apenas Getúlio Vargas, que fez muito mais pelo trabalhador que os governos petistas. Era um momento difícil e Getúlio ousou e avançou mais que quem faz acordo de governabilidade com reacionários pragmáticos do Congresso. Ainda que achar e elogiar e beleza da mulher não seja tosco como faz Bozo, foi desproposital aquela menção e naquele momento. Infeliz mesmo!

Rememorando, ano passado, num evento ele disse que “afrodescendente gosta de batuque e de um tambor”. Violência contra a mulher, “mas se o cara é corintiano, tudo bem”. E segue com “amantes são mais apaixonados pela amante que pelas mulheres”. Fossem ditas pelo dinossauro Bozo, teríamos passeata, não duvido disso. E eu até iria. Mas, comparar Lula ao idiota é desonestidade intelectual de quem se esquiva, por exemplo, sobre os filhos de ambos. Fosse Lulinha quem comprasse uma mansão no lago de Brasília por milhões pagos em dinheiro vivo, prolongasse estadia no exterior com a situação pipocando contra a família e seu papai, se elegesse vereador em algum balneário, seja catarinense ou carioca, como estariam o chupetinha e chupetão? Dois pesos e duas medidas? A minha régua tem tamanho único e mede considerações tanto favoráveis quanto desfavoráveis ao meu pensar. O Galo que o diga. Com a mesma medida festejo o hexa e reclamei das perdas no final do ano passado.

Enquanto os filhos do petista não estão envolvidos em escândalos, até tentaram criar factoides, todos do outro – 01, 02, 03, 04 e até as zero ex e zero atual – mamam em cargos públicos. Ah! Foram eleitos! Sim, pelo sobrenome do atraso e da sanha pelo confronto que defendem publicamente. E seguidos por falsos moralistas, desonestos travestidos de intelectuais, pastores pragmáticos, fake cristãos, pobres de classe rica e outros afins. Para se ter uma ideia o filósofo dessa gente é o natimorto Olavo de Carvalho. Piada! E se acham soberanos. Tem um imbecil, desses atoa na vida e que circula diariamente aqui na minha região, que nunca percebi conversando sobre trabalho ou produtividade. Sempre abordando pessoas para defender sua idiotice intelectual, certa ocasião me recomendou ler e conversar com ele sobre essa filosofia e não com garçons, barbeiros e gente pobre. E o danado é duro e improdutivo.

Trocando em miúdos. Lula foi infeliz, péssimo mesmo, mas só quem tem discernimento pode manifestar. Gado, de qualquer banda, não tem direito a críticas. Afinal, sem querer colocar na balança, qual manifestação mais infeliz? De quem, sem maldade e com boa intenção – é verdade -, chamou sua ministra de “mulher bonita” ou daquele grotesco que vive inflamando e sugestionando a misoginia. Quantas manifestações assistimos desse troglodita com estereótipos, discriminação, violência e linguagem desrespeitosa. Cada qual sabe a dor e a delícia de ser o que. E posso (podemos) questionar Lula, pois sequer sou (somos) do seu rebanho. Minha (nossa) opção é outra. Pela vida, pela dignidade, com respeito e sem violência verbal ou física. Essa gente desconhece isso e são desprovidas de inteligência e de alma. Sigamos!

Blogueiro

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  • Amo os seus textos, são de uma clareza enorme e o mais importante, sem defesa ao maniqueísmo político.

  • Boa Tarde! Gostei do texto. Creio que já chegou a hora dos defensores da ditadura irem para a cadeia e o Brasil prosseguir. Um abraço, Edu, querido!

  • Como sempre seus textos são excelentes. Não aguento mais esses idiotas, fazendo lavagem cerebral no povo. Querendo anistia...

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