Mário Sérgio

Domingo de Ramos, festa cristã comemorada no domingo que antecede a Páscoa para lembrar a chegada de Cristo em Jerusalém. A distribuição dos ramos de plantas diversas, que, na tradição católica, são palmeiras, salgueiros e oliveiras, dependendo do local da distribuição, ajustando-se com os locais de menor incidência de cada uma. Isso encerrava a pretensão de oferecer um “item precioso” aos fiéis. No Brasil, tal distinção raramente é considerada.

Resgato, pensativo, a bela poesia de Castro Alves, baiano aclamado Poeta dos Escravos: “A Cruz da Estrada”(1865). Essa pérola foi escrita 23 anos antes do fim oficial da escravatura no Brasil. Em um dos trechos, questiona o caminheiro que encontra uma cruz simples, identificando a sepultura de um escravo cuja liberdade só foi conquistada em troca da própria vida: “Que vale o ramo do alecrim cheiroso / Que lhe atiras nos braços ao passar?”. Divago um pouco sobre a relação entre os ramos que se prendem àquela cruz e os ramos que celebram um momento bíblico daquele que seria, enfim, crucificado.

Por muito tempo também, a liberdade de se expressar, de demonstrar prazer, de estudar e se desenvolver, de votar e tantas outras formas de emancipação, além da possibilidade de protagonismo da própria vida, foi negado às mulheres. É bem verdade que um longo caminho de conquistas e vitórias já foi vencido e, claro, também há muito ainda a alcançar.

Paralelamente, a vida das PcD encontrou eco nas lutas das mulheres por emancipação social e relacional, principalmente. Há que se reconhecer, no entanto, que cada um desses recortes sociais ainda tem muito o que caminhar em direção ao estágio de liberdade e independência capazes de gerar felicidade e leveza no curso da própria história. Quando a discriminação se arvora a existir, reverbera em cada um de nós um grito de honra em desfavor dessa iniquidade. Foram tantos até aqui, que, aos poucos, porém com consistência, o futuro, antes obnubilado, começa a ceder enormes brechas de luz e esperança por dias mais amigos, por noites mais tranquilas.

É impossível, a meu sentir, definir a grandeza que ser mulher significa, pois tantos quantos sejam os adjetivos que busquem categorizar essa dádiva divina, ainda não alcançarão sua majestade de esplendor e graça, sua força e delicadeza, seu dom divino de ser sonho e realidade.

O amor, sabidamente, é um sentimento sublime que se expressa de várias formas sem, todavia, poder ser tocado ou retratado, pois que é imaterial. Assim como o carinho, o desejo, as vontades claras ou as mais recônditas, a dor ou a felicidade. Ainda que se busque tornar material esse sentimento, como no genial cordel de José Paes de Lira, “O amor é filme”(2003): “O amor é filme / eu sei pelo gosto / de menta e pipoca que dá / quando a gente ama…”; deve-se depreender que se trata de simples, bela e romanceada licença poética.

Mulheres são corpo e alma, espaço e tempo. Mulheres são muito mais que amor.

Crédito da imagem: reprodução guia “Mulheres com deficiência: garantia de direitos para exercício da cidadania”

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