Taís Civitarese

Imagine um nó de víboras. Um emaranhado em que cobras se entrelaçam confusamente, com as presas expostas, resplandecendo veneno.

Assim é o coração do protagonista deste livro. Ou talvez não. Talvez o nó pernicioso tenha sido feito por terceiros sobre um coração intacto, apesar de avarento.

Este é o argumento da fabulosa história de François Mauriac, autor do realismo francês do final do séc. xix. Através de uma carta que escreve para ser entregue a sua esposa assim que ele morrer,  o narrador relata uma série de acontecimentos que culminaram com o endurecimento de seu caráter. Isso causou o distanciamento de seus familiares e seu isolamento em pensamentos sombrios e vingativos. Entretanto, ainda é possível vislumbrar sinais de afetividade e humanidade em suas palavras, o que nos deixa confusos em relação a tratar-se de um verdadeiro vilão ou do real herói da história.

A verdade é que ele não é nem um e nem outro. Aqui aprendemos a colocar as situações em perspectiva e a compreender os sentimentos dos personagens buscando pela origem deles.

Um exercício assim é algo extremamente necessário no mundo de hoje, onde reina a dicotomia ou o maniqueísmo. Em tempos de oposição esquerda e direita, bem e mal, fascismo e comunismo, resta refletir sobre o bem que pode estar presente em situações consideradas esdrúxulas e as víboras que podem advir da melhor selva de intenções.

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