Taís Civitarese

Ter crescido no catolicismo torna difícil para mim desvencilhar os símbolos desta religião de imagens fortes, impactantes.

Por mais que o amadurecimento traga muitos questionamentos, dúvidas e outro tipo de relação com a fé, a imagem de uma igreja ainda me impacta com muita força. Foi um lugar que passei anos frequentando, onde muitas vezes encontrei paz e onde depositei muitos sonhos e desejos em oração. Tudo isso está relacionado a minha relação pessoal com a fé e não necessariamente ao dogmas, preceitos e condutas apregoados pela instituição.

Recentemente, emocionei-me muito ao assistir ao filme “Conclave”. Lançado em 2024 e dirigido por Edward Berger, ele se baseia no romance do escritor inglês e ex-jornalista da BBC Robert Harris. Trata da eleição para a escolha do novo Papa em um mundo contemporâneo em que se acirram tensões políticas e ideológicas.

Com atuações brilhantes de Ralph Fiennes, Stanley Tucci, Carlos Diehz e um maravilhoso retorno às telonas de Isabella Rossellini, acompanhamos uma história tensa, realística e cheia de interseções com a vida cotidiana. Sem querer estragar a surpresa de quem não assistiu ao filme, queria comentar sobre uma cena, a que mais me marcou e que dificilmente esquecerei. Acredito que ela seja uma bonita metáfora de toda a minha relação com a fé – e por que não? – com a religião.

Em um dado momento, um dos personagens fica na dúvida sobre o que fazer em certa situação. Examinando o seu interior, ele faz uma escolha. Ao consumar a escolha, no exato momento em que age em prol dela, ouve uma explosão próxima a si (que depois, é explicada).

Alguns dirão que ali foi um sinal de Deus informando o parecer divino sobre aquela decisão. Outros, que foi mera coincidência. Para mim, a leitura e a seguinte. A vida de alguma forma sinaliza para nós as melhores escolhas através de pequenos fatos, alertas, intuições e consequências ao longo do caminho. Se estivermos atentos a eles (o que poeticamente poderia-se chamar de Deus, energia ou universo) o fluxo das nossas ações segue de modo mais sereno.

É assim que tento viver. De olho nas explosões e atenta aos perfumes. Em alerta – mas nem tanto – sobre os espinhos ou lufadas de ar fresco propostos pelo caminho. É a isso que chamo de proteção, fé, divindade e espiritualidade.

Um comentário sobre “Conclave

  1. “Igreja é o lugar onde senhores que nunca estiveram no céu dizem maravilhas daquele lugar, a pessoas que nunca irão pra lá”. (Frase atribuída a H.L. Mencken, jornalista e crítico social americano).

    Em tempo: “Conclave” é espetacular e as atuações de Fiennes, Tucci e Diehz são, realmente, espetaculares.

    Abraços e parabéns pela ótima postagem e referência ao filme!

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