Silvia Ribeiro

E lá vem você com esse seu sorriso de sutura sendo a minha cura, me dando papel de destaque, e me ensinando a me entregar de uma maneira que eu nunca soube.

Tão definitivo, solar, importante. Me fazendo descobrir um jeitinho só meu de dizer eu te amo, e indo além de tudo aquilo que eu já recebi.

Mas ao mesmo tempo blindado e cheio de alternâncias, com idas e vindas dentro da cabeça e uma sensação inoportuna de deixar pra depois. Reflito, e não penso duas vezes em dizer que a ficção briga com a realidade.

Você se importa com os meus desejos, desconstrói a menina que vive dentro de mim, ruboriza o meu batom, e me faz achar graça em tudo. O seu corpo tem uma simplicidade ímpar de dizer que me quer, e isso faz com que as minhas carícias fiquem falantes demais.

Entre outras delícias que deixa a sua presença em todos os cômodos da casa, que busca espaço nas minhas lembranças, e justifica cada detalhe de saudade que sopra ao meu ouvido.

Até que… Silencio, e alguns movimentos monossilábicos se verbalizam numa intrigante indiferença.

Um transitar de ausência transcorre com facilidade dentro de mim e envolve todos as minhas emoções. É como se o tempo estivesse redigindo um passado que não respira mais, e um vazio cruel resolvesse transformar uma história de amor num simples borrão.

As minhas indagações brotam todas as vezes em que olho e vejo a porta inerte e com todas as suas digitais, mas sem o viço das suas mãos na maçaneta pra reerguer o meu afeto. Igualmente infeliz.

Em contradição o destino avança, e eu espero o seu abraço no primeiro raiar do dia, o seu lugar marcado no café da manhã, a sonoridade da sua camisa agarrada ao seu corpo, e toda a combinação de frescor e chamas que vivemos.

Não reconheço as músicas que ouvimos juntos, o seu prato preferido, o perfume que você esquecia por aqui.

Não sei qual é a lingerie que você prefere, os sonhos que carrega dentro de si, nem onde você se aquece em noites frias.

E me pergunto: Será que você está chegando?

Não sei se estarei mais aqui.