Sandra Belchiolina

Quando se é mais velho, essa pergunta torna-se tão desnecessária por alguns ângulos e tão necessária por outros. O que quero dizer com isso? Muitas experiências já foram vividas, famílias foram constituídas — ou não —, trabalhos realizados, amores experimentados no encontro e desencontro de pares. Alguns desejos foram concretizados, enquanto outros ficaram pelo caminho, seja por não valerem a pena, seja porque o tempo passou e sua realização se dissipou no horizonte, cada vez mais estreito.

Os psicanalistas sabem da importância dos sonhos para um sujeito. Conforme Freud, os sonhos — aqueles trabalhados pelos psicanalistas, esse saber que, desde o século XIX, ele estudava minuciosamente — carregam desejos recalcados e são fundamentais para a análise da pessoa.

Sabemos que o significante “sonho” está sempre presente no discurso das pessoas: “corra atrás dos seus sonhos”, “não deixe seu sonho morrer”, “a casa dos sonhos”, “a viagem dos sonhos” e assim por diante… Para um analista, a dimensão do sonho vai muito além dessas expressões. De fato, para compreender o que um sonho realmente significa para alguém, é necessária a análise, o setting analítico e a presença de um profissional qualificado — o analista. Gurus, coaches e outros profissionais que não passaram por análise e não possuem formação séria em escolas de psicanálise (não esses cursinhos que proliferam excessivamente na internet) não estão capacitados para interpretar os sonhos conforme os estudos que Freud desenvolveu e Lacan aprofundou.

Esta crônica não pretende desenvolver um estudo sobre os sonhos. Sua motivação surgiu a partir da leitura do refrão da música “Clube da Esquina nº 2”, composta por Márcio Borges, Lô Borges e Milton Nascimento, e cantada por este último de forma maravilhosa. Segue um trecho:

“Porque se chamavam homens

Também se chamavam sonhos

E sonhos não envelhecem”

Sim, os sonhos não envelhecem — apenas precisamos aprender a ouvir o que eles nos dizem!