Silvia Ribeiro

Um dia desses me disseram que eu sou uma pessoa meio “Ostra”. (fechada) Aliás, tem sido comum essa análise sobre mim, apesar do ineditismo da comparação com o molusco, isso eu ainda não tinha ouvido.

Logo eu, que ando pela vida debulhando e espalhando as minhas criações e criaturas sempre tão públicas.

Fios e mais fios de letras saem de dentro de mim pra quem quiser ver. Ou melhor, ler.

Já falei tantas coisas, disse de mim e de outros. Quantas vezes o meu lápis foi a minha boca, os meus olhos, a minha cabeça, e o meu coração.

Contei histórias que eu vivi. Algumas delas eu inventei por querer experimentar, e outras sei que ainda vou viver.

Dei imaginação a paixões avassaladoras de outrem, suas viagens inesquecíveis, algumas infâncias perdidas, festas que não saem da lembrança, e rostos que o tempo não levou.

Estive mais próxima de outros universos e falei de algumas revoltas, tristezas, e saudades de muita gente. E das minhas também.

Em entrelinhas declarei o “meu amor” e para o “meu amor”. É o que eu mais gosto de dizer.

Espalhei palavras por todos os lados, becos, ruas, baladas, e continentes, embora eu reconheça que algumas eu deveria ter silenciado. E vez ou outra, tive que engolir algumas delas sem ao menos um copo d’água. E digo, não desceram redondo.

Me alegro em saber que hoje as tenho dentro do peito, e torço para que o meu lápis as encontre e as torne visíveis. Ou que essa força etérea que me inspira diga: bora! pegue o lápis, temos muito o que dizer.

Sei que muitas perguntas se perdem na imensidão do meu silêncio, nos momentos em que a solitude me agrada, e me transporta para um lugar só meu. E talvez, seja esse o motivo de causar essa impressão de ostra.

No entanto, as minhas emoções se tornam legíveis no exato momento em que elas conseguem alcançar o olhar de quem as recebe. É como se tornassem palpáveis e pudessem ser abraçadas por quem está do lado de lá.

Gosto de ver o meu lápis (cria), entrando na casa das pessoas. Me orgulho de vê- lo gesticulando, fazendo perguntas, ou simplesmente tomando um café.

E cá entre nós, ele me faz sorrir escandalosamente quando me diz- naquela casa gostaram de mim, na outra me disseram pra voltar, e naquela outra me receberam no quarto.

Essa sou eu!

Cheia de histórias pra contar…

Ps: Se quiserem saber mais sobre mim, somente olho no olho.

5 comentários sobre “Ostra

  1. Como uma ostra você reagiu a um invasor externo, pessoas que entraram na sua casa e foi envolvida com sua experiência de vida, gerando uma nova história, que para nós leitores, uma joia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *