Seria uma porta?

Silvia Ribeiro

Seria uma porta?

Não sei.

Eu sempre me acanho quando preciso saber o que não cabe mais dentro de mim, e quando tenho que abrir espaço pras coisas que querem entrar.

Presumo que preciso chegar um pouco mais perto! Sinto que se eu alcançar esse limiar alguma alegria há de ter lá dentro, alguma poesia há de esperar pelos meus olhos, e alguma fenda de conforto há de me apresentar o que vai além do horizonte.

Considero que alguma divindade pode me transportar para um mundo que eu quero viver, e que semiventos podem me levar para uma experiência transcendental.

Com uma chave em punho, e uma respiração cada vez mais curta, tento desafiar o medo que me paralisa.

E no que tange a essa minha covardia, penso em utilizar a magia do tempo onde eu acumulei muitas despedidas, muitas saudades, e muitos amores. Sobretudo, folhas em branco que vivem no meu criado mudo. Pode ser que isso me encoraje.

Garanto que não está sendo fácil. Mas tudo que está ali dentro pode ir embora sem que eu consiga derrubar as minhas paredes internas, sem que eu tire a poeira das minhas reticências, e sem que eu corte o cordão umbilical com o passado. Particularmente, sem que eu possa conhecer a nova paleta de cores que o destino preparou pra mim.

Enxugo o suor que cai abundantemente pelo o meu rosto sem saber se eu irei encontrar antigos conhecidos, ou se devo dar as boas-vindas para o estado de espírito que eu viverei dali pra frente.

E num vagar de profunda inspiração e de uma evolução emocional contagiante, supero as batidas eletrizantes do meu coração e examino tudo pelo o buraco da fechadura.Tenho a impressão que lá dentro alguém orquestra todas aquelas imagens, todos aqueles sons, e todas aquelas pegadas que ficam pelo chão.

Cadeiras vazias almejando por alguém, músicas ainda sem letra querendo ser moldadas, rezas em busca de santos  aguardando mensagens espirituais, erros que não foram cometidos fazendo caretas, e uma sublime gratidão andando de um lado pro outro sem nenhum protagonismo.

Comoções variadas até o presente momento sem batismo, desejos amadurando como fruta no pé, cenários lúdicos na incubadora sem um convencimento de sobrevivência. E intrigantes oportunidades donzelas penduradas em forma de guirlanda enfeitando aquele cenário.

Observo um pouco mais, e contemplo alguns galhos de flores em fase de namoro com o perfume, personagens abstratos sem um rosto pronto, e um pequeno flash de luz sem itinerário.

Sem esperar uma recepção calorosa coloco a chave na fechadura. Sem barulho, sem solenidade, e sem aplausos.

Empurro e entro! Um velho conhecido me sorri como se já me esperasse.

Como vai maestro?

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