Silvia Ribeiro
Oi! Como vai?
Entre e fique à vontade, não se preocupe com o tempo, com regras de etiqueta, nem com o que dizem lá fora.
Vamos tomar um café, falar da vida, achar graça das futilidades, e não pensar no amanhã.Tenho muitas coisas que você pode estar procurando e é provável que as encontre logo no primeiro passo.
Fique atento e ouça esse barulho! São as minhas confusões gritando por socorro, elas sempre fazem isso quando querem exibir um lado teatral.
Se prestar atenção poderá ouvir outras vozes também. Essas são as pessoas falando sobre mim e tentando me marcar com as suas línguas. Parecem aflitas, e algo me diz que elas acreditam ter livre acesso por aqui.
Admito que vez ou outra sou um pouco rude, um tanto presunçoso, e autoritário. Nem sempre me faço entender e as minhas palavras costumam se perderem por aí sem deixar o endereço.
Tenho uma peculiaridade que poucos conhecem e quando eu conto pra alguém eles duvidam. Falam que é lorota.
Há muitos anos vivo fugindo de um sujeito que à primeira vista aparenta ser inofensivo, ele aparece do nada, tem umas asinhas espertas, uma carinha de anjo, e um cabelinho meio esquisitinho. Mas posso dizer que é bonitinho.
O problema é que ele carrega consigo uma tal de “flecha” que quando me atinge é um verdadeiro caos. Por diversas vezes ele me acertou em cheio, parece até que já me conhecia.
Foi como se ele tivesse me injetado um veneno. O seu efeito me deixou burro, mudou todas as minhas veias de lugar, e fez pudim com o meu sangue.
Por isso eu vivo correndo desse atrevido e das suas invenções descabidas, e quando vejo que está se aproximando mudo de calçada. Se estou na balada e ele chega saio de fininho.
Quem esse “cupidozinho” pensa que é pra me tratar assim?
Agora vou me apresentar! Pra quem ainda não teve o prazer de me conhecer- me chamo “coração”.
Embora goste que me chame pelo apelido de colecionador de sonhos, bêbado em fim de festa, cabra macho sim senhor. Me identifico com essas bizarrices! No entanto, pode me dar qualquer nome que eu atenderei prontamente!
Ah! Posso fazer um pedido?
Não me deixe num canto qualquer.
Se for possível, me guarde em uma gaveta, diga que gosta de me sentir, me enrole numa toalha de banho, me cante em alguma canção, me beije demoradamente, me coma em algum desejo. Ou apenas me embrulhe em alguma saudade.
Não se assuste! Sou louco de pedra.
Me vesti com as palavras que você escreveu… Serviram-me na medida exata, como antigas roupas feitas numa alfaiataria!
Fico feliz em poder alcançar a sua história.
Obrigada!
Não precisa temer a flecha, pois o coração está sempre receptivo aos encantos, mas não está preparado para os desencantos.
Sem contar que essa flecha as vezes é bem gostosa.