Silvia Ribeiro
Sei que em algum lugar você existe.
E a cada instante penso que esse lugar seria dentro de mim, e isso parece ser uma obra que eu mesma criei. Devido a uma imagem ilógica, que passa entre os vãos da minha janela e se materializa nas minhas células.
É natural ver os seus olhos, interpretar a sua boca, tocar o seu rosto, ouvir o barulho do gelo derretendo no seu copo, e minutos depois acreditar que você se transformou numa história que tem existência física, e que chegou inteiro trazendo todos os pretextos pra me fazer feliz.
Algo mítico, que vem como um presente atropelando a minha realidade e reproduzindo uma confortável sensação de ser apenas sua mulher. Uma espécie de um transe que me deixa num estado profundo de metamorfose, embora tenha o peso do palpável, do próximo, do possuir, e de um delicioso êxtase.
É como se fosse um porre que não passa nunca, ou um sentimento que eu construí e não percebi.
Ainda que isso me custe alguns espinhos de saudade, um desencanto nas minhas noites, e uma desesperança na minha sobriedade, preciso dessa criatividade guerreira atuando no meu lado de dentro. Uma forma clássica de guardar os meus desejos sem ter que me explicar demais.
Mas, deixa isso pra lá! O essencial é que essa ausência não me impede de acordar todos os dias acreditando que você é a “minha versão original do que é o amor”.
Gosto do momento em que a minha memória se dedica a te encontrar e te recebe de braços abertos. E já me convenci que não preciso de um marcador de tempo falando que tenho a vida inteirinha pra continuar te amando.
Sei que a vida distorce as coisas, muda os itinerários, sobrecarrega a distância, e nem imagina do quanto um grande amor é capaz, por isso deixo que a minha busca se transforme em liberdade e que você perceba a minha melhor versão.
Só quero que você entenda que pra te amar eu só preciso de um coração.