Para onde estamos indo?

Mário Sérgio

Em algum programa humorístico, enquanto passo desinteressado os canais da televisão, vejo um jovem que faz perguntas aos transeuntes para, em tese, avaliar o nível de conhecimento dessas pessoas. São questões de conhecimentos gerais e uma delas era “Quem foi Albert Sabin?”. A maioria não soube responder ou, na verdade, nem arriscou um “palpite”. Houve quem dissesse que era o dono dos laboratórios (de Análises Clínicas); e, também, que era “o autor daquela música… aquela internacional… Fílim; é isso!?” (Feelings – Morris Albert/1975). Não! Não é isso não.

Resgato, então, incontinente, uma antiga propaganda interpretada pela Fernanda Montenegro, em que ela demonstra a falta de memória das pessoas em relação a alguns artistas, especialmente do teatro, de seus nomes esquecidos. A ideia no reclame é fazer um alerta quanto à necessidade de se conhecer a história de um povo através de sua arte e daqueles que a tornaram visível, importante, influenciadora e formadora do que somos atualmente.

Albert Bruce Sabin foi um pesquisador judeu, nascido na Polônia em 1906, que migrou para os EUA aos 15 anos, onde se naturalizou. Doutor em medicina, desenvolveu a vacina que praticamente erradicou a poliomielite (paralisia infantil) do planeta. Um dos mais renomados cientistas, que ofereceu uma contribuição gigantesca à humanidade. Criador do defensivo altamente eficaz, de baixo custo e logística simples. Sua eficiência permite ser aplicado por qualquer pessoa, mesmo leiga, sem agulhas, seringas ou outros insumos além do próprio imunizante em gotas orais.

Também me lembro do início da década de 1980, quando a Tecnologia da Informação começava a ganhar corpo em popularidade, quando um querido e já saudoso amigo, Jarvis Campos Júnior, disse que a informática teria o condão de nos permitir ampliar nossa mente, pois faria o trabalho braçal, de guardar e disponibilizar dados. Consequentemente nosso cérebro, orgânico, criação incomparável da natureza, poderia se dedicar ao raciocínio sofisticado, em nível bem superior e, portanto, elevar toda a humanidade a um patamar inimaginável.

Constato abismado, pelo que vejo hoje na tv e, claro, nas espetaculares redes sociais, que há um abismo que separa o saber do burlesco. Como bem disse Chico Buarque (Fado Tropical/1973), “é que há distância entre intenção e gesto”, fazendo uma analogia do volume disponível de informações, oportunidades de aprendizado e de desenvolvimento acessados por poucos e a gama de inutilidades buscadas por muitos.

E não se resume toda a mediocridade intelectual ao povo simples, em tese sem acesso ao conhecimento. Há líderes importantes capazes de demonstrar massiva ignorância e despreparo técnico, psicológico e cultural, expressando barbaridades como se declamassem Virgílio. E, com isso, se confirma a brilhante locução do grande Paulo Autran, quando interpretou a peça Júlio César de Willian Shakespeare:

“-Aos homens sobrevive o mal que fazem, mas o bem quase sempre com seus ossos fica enterrado. Seja assim com César”.

A minha expectativa, sonhadora, reconheço, é que em algum momento dessa jornada dos “homo sapiens”, possamos retomar o caminho rumo à grande felicidade do conhecimento.

 

 

 

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